O nascer da lua cheia, o pôr do sol, o murmúrio das águas de um regato, os pingos de água da chuva que permanecem dependurados nas folhas, o sorriso de uma criança, tudo isso nos parece sublime, nos impressiona, nos inspira.
Mas é no território da arte que o sublime se destaca como qualidade inerente, que transmite plenitude, a arte é florescência da vida para Schopenhauer (1788-1860), manifestação da Vontade, sendo esta a pulsão presente em todos os seres, a necessidade de se expandir, em tudo o que se mostra, em tudo o que vive, desde a força mais íntima do ser humano, até o mais minúsculo animal, há Vontade, uma engrenagem geral de todos os seres.
As formas de expressão do sublime são a música, a melodia que conecta do começo ao fim, por meio dela a consciência se esclarece, sendo a linguagem da música universal. O artista frui o belo, a arte consola, o artista entusiasmado esquece a penúria da vida, que para Schopenhauer é sofrimento, como se fosse um receptáculo sem fundo, o desejo satisfeito é imediatamente esquecido por outro desejo, por outro impulso, sem fim. "A ausência de satisfação é sofrimento, a ausência de novo desejo é o tédio". Assim, é na arte que é possível buscar satisfação e refúgio, um desdobramento da Vontade. A poesia, a arquitetura, a pintura, elevam, o sentimento do sublime preenche, e sublime é o objeto que causa essa sensação de plenitude.
Santa Cecília, a beleza humana, visão que arrebata.
Enquanto para Schopenhauer o sublime satisfaz, preenche, para Freud a sublimação, que deriva de Erhabenheit, tal como para o filósofo, para Freud tem outra conotação, muito diferente, poderíamos dizer que lembra contenção, substituição. Sublimação é a dedicação ferrenha a alguma atividade que aparentemente nada tem a ver com a libido, com o impulso sexual, com o instinto. O prazer sexual é canalizado por uma atividade que proporciona prazer, em tudo diversa do objeto de desejo, da pulsão. O que não implica desvalorizar esse diversionismo, pois muito poucos, segundo o psicanalista, têm êxito no desvio dos impulsos para finalidades culturais mais elevadas.
Tanto para Schopenhauer como para Freud, a pulsão é determinante, para o primeiro a necessidade de se expandir sendo o sublime o mais alto grau; para o segundo, o desejo, o instinto e a busca de prazer, podem se dar até mesmo sublimados. A diferença está na relação do sublime com o enlevo da arte, para o filósofo. Mas a insatisfação é a pedra de toque para ambos.
De que matéria, afinal, somos feitos?
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