Desde os primeiros balbucios da fala, o uso de toscos instrumentos, grupamentos em aldeias, houve uma evolução impressionante até a linguagem computacional, a exploração espacial e mísseis teleguiados. Milênios da história humana se passaram.
Contrastes há até hoje: tecelões e artistas produzem ao lado de fábricas automatizadas, o carrinho de mão serve ao mesmo tempo que automóveis conduzidos por robôs fazem sua estreia. Há vilas e aldeias nas quais casas não precisam de grades e alarme, mas a segurança é cada vez mais reforçada nas cidades, nos prédios, nas ruas vigiadas por câmeras. Há neste instante um salvamento heroico e um covarde ataque a uma escola. O saber é transmitido por meio de livros, das cátedras, um poeta inspira, enquanto um grupo se arrisca em prédios para pichar as paredes com garatujas indecifráveis. O caminhão recolhe o lixo, garis se equilibram na traseira, um deles sorri para um passante, na outra ponta entulhos são despejados em terrenos, da janela de um luxuoso automóvel um papel de embrulho é jogado fora, na praia a família deixa para trás sacos plásticos. Um fiel se ajoelha e reza, faz seus pedidos, no mesmo templo um projétil é lançado porque aquele não é o seu deus. No mesmo globo, a diarreia mata, na outra ponta a ciência busca a cura para o câncer. Em um campinho meninos se reúnem para uma pelada, no outro lado a disputa pelo Superbowl, com ingressos a 40 mil reais.


Alçar voos, engrandecer, enveredar por caminhos, subir montanhas, estabelecer contatos, navegar, explorar novos povos e civilizações, a aventura humana não mais tem o privilégio do pioneirismo. Cada pedaço desse planeta já foi ou está sendo mapeado. Isso não resultou em respeito e nem direito de um povo de se autodeterminar e nem de se estabelecer. O mundo é um só, mas sem nenhuma organização forte o suficiente, respeitável, com legítima autoridade, com força e poder para se fazer ouvir e tomar decisões acertadas, equânimes. Pelo contrário, a política internacional segue por caminhos tortos, perigosos, irresponsáveis. Desde primórdios houve guerra de conquista, dominar, invadir, restabelecer fronteiras, conquistar, essa história se prolonga até a atualidade.
Morro carioca dominado pelo tráfico, zumbis no centro de São Paulo, o usuário de cocaína na casa noturna refinada de alguma cidade onde a riqueza e a ostentação são a regra: duas pontas que no fim se unem e que são comandadas pelos produtores e pelos chefes do narcotráfico. A matéria prima do fentanil, por exemplo, droga que alivia a dor mas vicia e mata, é produzida na China, traficada para os Estados Unidos. Produtos que beneficiam, produtos que sabidamente viciam, importa apenas vender, fazer preço, exportar. Dane-se o uso.
Não vamos aprender nunca?! A estrutura mental oscila entre Eros e Thanatos, entre o prazer e a dor, entre a realização e a destruição, entre a sanidade e a loucura, entre a vida e a morte. Esses são os parâmetros mais gerais e indestrutíveis da alma humana. Em busca de solução e do sábio meio termo, pressionados por ambição, poder e glória, prosseguimos, bilhões de vidas formigando num planeta solitário. Pode ser que a sabedoria um dia seja a prática entre políticos, chefes, mandatários; pode ser que líderes religiosos conduzam crentes por caminhos de mútua compreensão; pode ser que as bases da educação beneficiem crianças e jovens no mundo todo; pode ser que a arte, a música e o lazer sejam compartilhados por muitos; pode ser que o fanatismo seja desmascarado; pode ser que esquerda e direita não sejam a única opção.
Pode ser, a alma humana é incansável.
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