Na postagem anterior a felicidade se mostrou impossível. Apesar disso, ela é almejada como se lê em Freud, O Mal Estar na Civilização (1929). Freud não pretende provar nada e sim apontar para aspectos psicanalíticos, é claro. O sentimento do Eu tem limites precisos, se prolonga no Si, quer dizer, o Eu se altera com relação ao mundo ao sair do seio materno e pela primeira vez entrar no mundo, princípio de realidade, do qual é preciso se defender; para tal o Eu exclui o exterior. Esses elementos da vida psíquica se conservam.
Sigmund Freud,1856-1930, médico neurologista, pai da psicanálise
Os sentimentos religiosos são necessidades poderosas, remetem à nostalgia do pai, sua proteção, sentimento infantil de dependência. A vida é pesada e dura, cheia de obrigações, daí a busca por sedativos que são a diversão, satisfação com drogas e outros meios que nos tornam insensíveis. Qual a finalidade da vida? Acima de tudo a finalidade é buscar a felicidade, as fontes de prazer, o que Freud chamou de "Princípio de Prazer", evitar a dor, obter satisfação plena. A religião é uma dessas fontes.
Porém, a infelicidade vem do que é inevitável, a decadência do corpo, a pressão de forças externas e as relações com os outros. Com que meios reagir? Mergulha-se no prazer, foge-se da realidade, usa-se alguma droga. Para evitar as preocupações, o fardo da realidade, busca-se refúgio num mundo à parte que possa dar melhores condições para a sensibilidade, usar defesas como praticar ioga, sublimar os instintos, por meio da arte, resolver um problema científico, descobrir verdade, e o mais eficiente, trabalhar. O trabalho funciona na "economia da libido", é também uma questão obviamente de sobrevivência que agrada a uns e que para muitos não passa de obrigação.
No esforço para obter felicidade e fugir da infelicidade, em outro contexto, o amor, amar e ser amado, retorno ao prazer infantil. O problema são as decepções. Outra via é a beleza, mas a satisfação pela arte é passageira. Freud entende que a psicanálise pouco tem a dizer sobre a beleza.
Restam quatro tipos de inclinação, ou melhor, sublimação dos instintos: o erótico, o narcisista, o homem de ação e a fuga pela neurose ou psicose. Já deformar a realidade como se fosse um sonho, papel da religiões, deformação quimérica da realidade, é um delírio, menos para os que creem. Em todas aquelas inclinações, a religião interfere ao impor um só caminho, o da imunidade ao sofrimento, a submissão às exigências da crença que serve como último e único consolo e alegria.
E a civilização? As instituições que poderiam nos trazer proteção e realização, não trazem e pior, foram nós mesmos que as instituímos. A civilização está na origem das neuroses. Os domínios técnico e científico como fontes de prazer ou satisfação, não nos tornam mais felizes.
Por quais razões? Fica para a próxima postagem.
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