domingo, 13 de outubro de 2024

O que é cinismo?

O termo "cinismo" tem origem grega, se refere à forma adjetiva de cão  (Kynismus), comportar-se como cão não significava algo ruim, pejorativo e sim vida simples, desprendimento de poder e de riqueza. No sentido usado comumente e que é pejorativo, "cinismo" significa pessoa despudorada, que ofende a moral, com falta de vergonha, alguém descarado. Enfim, nada nobre, nada enaltecedor. Como os cínicos desprezavam a seriedade e a responsabilidade, foram essas características as responsáveis pelo sentido negativo do termo.

Muito ao contrário,  no sentido antigo da escola filosófica, o cinismo do século 4o. a.C. era um modo de vida. O cinismo não legou escritos, seu modo de ser e de pensar foi enaltecido principalmente pelos filósofos estoicos. O representante principal da escola cínica foi Diógenes, que vivia totalmente desprendido de riqueza, de honra, de aparência, nada de bens materiais, uma vida mendicante, até mesmo a nudez era uma maneira de manifestar seu modo de vida anticonvencional. O comportamento deveria mostrar por si só o que ele pregava e como agia de acordo com o que pensava.


Diógenes nu em seu barril, com a lamparina à procura de um homem honesto.

A escola perdurou até o século 3o. a. C., perdeu força e se reavivou no início de nossa era, apesar de em Roma ser considerada pouco adequada. O representante principal no século 1o. foi Demétrio e no século 3o. Peregrino. O cinismo influenciou o estoicismo e foi exemplo para o modo de vida monástico, totalmente desprendido, com renúncia à riqueza e bens materiais. O objetivo do cinismo era pedagógico, servir como modelo para educar os jovens. Na política defendiam 
a igualdade social, o retorno à natureza e o cosmopolitismo, quer dizer, o mundo é um só para todos que nele habitam. 

Mais do que uma escola filosófica, o cinismo era uma atitude de vida, vida desprendida, com desprezo pelas convenções sociais. As atitudes firmes seriam benéficas em épocas de crise para conseguir se manter em meio às adversidades, não desesperar-se. O que poderia ser alcançado tanto por uma vida ascética como por uma vida de prazeres, hedonista, aproveitar o aqui e o agora, pura e simplesmente. Essas atitudes poderiam servir de exemplo para enfrentar crises, em um sentido moral.

Como assim, moral? Vida crua, exibindo-se nu, passando frio, vivendo de esmolas como Diógenes?

Que moral seria essa? Alguns podem pensar ser justamente um comportamento imoral. Ora, atentem para os termos "comportamento" e "imoral". Não havia essa noção de comportar-se, seguir as regras da sociedade, muito menos imoral, um adjetivo que antecipa juízos para se referir a algo supostamente condenável. O cinismo visava a crítica dos que cuidavam da aparência, mas que no fundo são hipócritas. Desnudar-se era simbólico, ao mesmo tempo que exibir o total despojamento levaria a refletir sobre os valores que nos movem. Hoje, perguntar quais valores nos movem sem uma referência como a de Diógenes nu em seu barril, não passa de pura especulação. 

O cinismo, então, levaria a uma reflexão, o que nos move? A aparência, no caso de Diógenes, exporia a essência de uma forma de vida, exemplar. Na situação atual a essência é muitas vezes o que mostramos, como aparecemos para os outros, isso é o que mais importa.

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