quinta-feira, 1 de junho de 2023

Narrativa, o termo político do momento

No dicionário da língua portuguesa "narrativa" significa: "Exposição de fatos; conto; história"; no Aurélio (alguém ainda usa?):"1. narração. 2. forma literária na qual se expõe uma série de fatos reais ou imaginários; conto, história."

Ultimamente o sentido de "narrativa" se tornou político e ideológico, serve para marcar o adversário, e somente o adversário, como sendo falso, fantasioso, mentiroso. Que narrativa se refere a algo imaginário, saído de um conto de fadas.

E não só isso, trata-se de um daqueles termos ou conceitos que tornam o seu usuário um sabichão, alguém por dentro do vocabulário da vez e capaz de lançar no ar,  como um balão de ensaio, com glamour, a frase mágica: "é apenas uma narrativa", algo inventado, que engana trouxas.

Ora, narrar algo é descrever, mostrar, contar uma história ou fatos. Assim, narrativa diz respeito a algo possível, que poderia acontecer, mas que precisa ser inteligível para o ouvinte, para o interlocutor. Precisa fazer sentido, e mesmo sendo literário, diz algo, afirma algo, descreve algo.



maio de 2023

No sentido empregado por nosso presidente ao se referir à ditadura venezuelana como uma "narrativa", reforça o uso atual político e ideológico, passa por cima de fatos que foram sim narrados pela imprensa, por testemunhas, por imigrantes famintos, por reportagens idôneas.

A própria narrativa dos opositores da ditadura de Maduro, daqueles que foram ameaçados e presos, dos que vivem sob um regime autoritário, trata (ou narra) de acontecimentos  conhecidos, constatados e não de falsidade.

Quer dizer, uma narrativa tanto pode ser um estilo de descrição como constatação de fatos.

Assim, Lula errou duas vezes; primeiro, ao encobrir acontecimentos publicamente constatáveis; segundo, ao usar o termo em um só sentido, no de mentira. 

Inclusive no sentido literário, acontecimentos são narrados, descritos, enumerados, não faz sentido considerá-los como mentiras. E no sentido habitual alguém pergunta, por exemplo, "como foi sua viagem?" O interlocutor responde narrando as impressões e acontecimentos. Faz sentido você duvidar? A menos que o viajante seja um mentiroso contumaz, o que é fácil de descobrir, você acredita...

Conclusão: Lula é um desses mentirosos? Ou ele próprio recusa a realidade por ele recoberta pelo véu da ideologia?

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