O tema do fundamentalismo me foi sugerido pela amiga Ivone Gradowski. Presente na política e nas ideologias, o fundamentalismo religioso se sobressai. Sempre polêmico e até mesmo cruel, é um fenômeno social e cultural, enraizado em seitas e preceitos obrigatórios recebidos com plena e cega adesão.
Os fundamentalismos religiosos se baseiam em livro sagrado, profecia, ritos, firme adesão, aprendizado da doutrina e, quase sempre, um prêmio de vida eterna benfazeja ou o castigo eterno.
No caso do fundamentalismo islâmico, xiitas e sunitas seguem um ou outro dos descendentes do profeta. A queda do Xá do Irã em 1971 e o retorno de Khomeini do exílio levaram à criação de um estado islâmico xiita, que baniu tudo o que representava a cultura de tipo ocidental para livrar-se da opressão do Xá e iniciar uma nova era, com, por exemplo, o planejamento de cidades islâmicas (ver "Entre os Fiéis" de V. S. Naipaul), ritos severos e usos obrigatórios como o do véu pelas mulheres, que resultou em protestos recentemente no Irã, logo abafados.
Na Arábia Saudita foi comemorada pelas mulheres a permissão para dirigir seus carros (!). Na África o fundamentalismo aprisionou meninas, e o Afeganistão voltou para as mãos tirânicas da República Islâmica, com multidões em fuga do regime Talibã.
O cristianismo radical no passado caçou "bruxas" e dizimou índios. O judaísmo ortodoxo pode ser constatado em certos bairros da progressista Nova York, mulheres não precisam de véu e sim de peruca, com os ensinamentos da Torá obrigatório para os meninos e a rigidez de normas de conduta.
O que pensar disso e de muitos outros exemplos de fundamentalismo religioso?
Prender-se à sequência de ritos, ao aprendizado da doutrina no livro sagrado, à crença no guia espiritual e nas profecias, isso representa radicalismo, extremismo? Ou significa cumprir rituais que preenchem a vida de significado, trazem paz de espírito e conforto espiritual?
É possível conciliar a adesão a uma crença que se pretende verdadeira e única com os ideais libertários de sociedades tolerantes, igualitárias, abertas, em que a liberdade de crença, de valores e de aceitação do outro, da convivência de credos foi conquistada na maior parte dos países?
Uns são fiéis e outros são infiéis? Isso é paradoxal, absurdo.
Salman Rushdie foi perseguido, recentemente esfaqueado por suas ideias; mesquitas são depredadas; jornais libertários incendiados; torres gêmeas atacadas; pastores se enriquecem às custas de palavras de ordem bíblicas e promessa de cura para todos os males. Uma lista sem fim...
Se certa religião fundamenta sua doutrina como única, e doutrinas são incontestáveis, o fundamentalismo representa o avesso da razão, da liberdade e da crença livremente assumida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário