quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O discurso de Lula sobre a desigualdade

 A visível emoção de Lula ao ressaltar as condições de desigualdade social e econômica foi um discurso demagógico, ele fez proselitismo?   

                                        


Seria mesmo inevitável esse tipo de apelo em seu discurso de posse, era mesmo isso que se esperava de um futuro governante preocupado com as condições de desigualdade em nosso país? Sim.

E por quais razões? A principal delas é a razão salvacionista. Todos fizeram errado, desde o descobrimento, e a prova são as condições de extrema pobreza e de extrema riqueza, muitos famintos e pouquíssimos frequentando restaurantes luxuosos; o pescador em sua canoa e o milionário em seu iate; as crianças nas escolas caindo aos pedaços e as crianças nas caras escolas particulares, e eu poderia ficar aqui tecendo as inúmeras condições desses polos que dividem a sociedade.

As causas da má distribuição de renda são históricas, culturais, sociais e econômicas. A má administração dos impostos, a dificuldade de adaptar e melhorar os mesmos, a corrupção, a inércia das prefeituras, o apadrinhamento político, a falta de iniciativa para encaminhar os problemas sociais, que sequer são diagnosticados, tudo contribui para a citada e tão propalada desigualdade. A que tipo de desigualdade Lula apelou? Para a econômica e social. 

Mas não haveria uma desigualdade mais aguda, mais profunda e que é relegada a segundo plano?

Sim, a da educação, da falta de saneamento, a precária saúde básica, e o pior, a falta de estudos, de diagnóstico acerca das dificuldades e de oportunidades de cada município. Os interesses políticos ficam em primeiro plano, idem as disputas, a farsa ideológica, e o puro e simples descaso.

Esse é um lado da moeda, o citado no discurso de Lula. Acontece que faltou ver o outro lado da moeda, o da impossibilidade de instituir a igualdade. Igualdade não se institui porque ela passa necessariamente pela liberdade de escolha, e esta liberdade de escolha é institucional, constitucional, jurídica, pessoal. Ditaduras, oligarquias, sociedades totalitárias, impõem ou uma absoluta desigualdade que submete todos ao pensamento único, ou uma absoluta igualdade que fere a liberdade, a iniciativa, e que transforma a população em um imenso exército obediente ao chefe.

As democracias modernas, constitucionais, legítimas prezam tanto a igualdade quanto a liberdade. Se a liberdade preponderar, o vale tudo prevalecerá. Se a igualdade preponderar, o pensamento único prevalecerá.

O difícil equilíbrio se dá com respeito às leis legitimamente instituídas, com a livre iniciativa baseada em princípios e regras que são transparentes e eficazes, com a base social educada justamente por um eficiente ensino básico, com as condições de saúde que permitem às crianças frequentar e usufruir do que as escolas devem proporcionar. E esses são deveres do Estado.

Então, não me convencem as comparações da desigualdade elencadas por Lula. Ninguém precisará chorar porque há escolas particulares de excelente qualidade e caras, sim muito caras. É preciso chorar porque o ensino público é ruim, precário, ineficiente.

O discurso foi sim, demagógico, Lula fez sim proselitismo.


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