Para analisar as raízes do pensamento filosófico há dois caminhos: o de retorno aos primórdios da Filosofia; e o de responder à questão dos princípios, conceitos e limites desse tipo de pensamento.
Os primeiros filósofos se preocuparam com a origem de tudo o que há, qual é o fundamento, a base de tudo? O mundo, o cosmo, a vastidão e, ao mesmo tempo os limites do mundo. Mas, como pode a imensa diversidade de seres limitar-se a um único princípio? Deve haver uma causa única, do contrário nada existiria... Os quatro elementos, as partículas fundamentais, e, muito intrigante, o indeterminado. Se não é possível determinar qual é a causa de tudo, então é porque tudo o que existe certamente teve sua origem e, como as coisas no espaço/tempo são múltiplas, essa origem não pode ser rastreada.
Por detrás da necessidade de investigar a causa há nos primeiros filósofos a necessidade de saber, de encaminhar seu pensamento para a interrogação com o uso do raciocínio. Mas antes, primitivamente e, eu diria até nossos dias, há o outro lado, o mais primitivo, o lado do místico, intuitivo, em que as forças da natureza e a morte impressionam, atemorizam, levam aos cultos, aos sacrifícios, a adoração de deuses, às narrativas míticas. Evidentemente, não é esse o caminho da Filosofia.
Se Platão recorre ao mito tanto para exemplificar seu pensamento, e mesmo como paralelo de sua filosofia, em Aristóteles reina soberana a razão, a busca racional dos princípios e das causas, e eles resultam de sínteses, da lógica, da ciência primeira, que é a metafísica, da especulação acerca do fundamento de tudo o que existe, que são: causa eficiente, causa material, causa formal e causa final. A metafísica aristotélica, de tão completa e profunda foi usada pelo tomismo, foi transformada e readequada por Kant, deu trabalho para Hegel que procurou um caminho divergente, levou Nietzsche a inclui-la no rol dos idealismos e voltar-se para o que é humano, isto é, fraco, nós os inventores de valores inclusive da ideia de bem e mal.
Esse caminho, o da História da Filosofia, é imprescindível para tentarmos responder à questão dos próprios conceitos filosóficos e de seus limites.
O conceito mais abstrato, mais geral e fundamental é o de ser. Para pensar de modo mais elementar é necessário pensar o conceito de ser que se apresenta na questão de "tudo o que é tem uma causa", mais especificamente no verbo "é". Vejamos: ele prevalece nas ontologias existenciais, no logos que pensa e, portanto, é; na descida da metafísica do céu platônico para o ser do homem, ser-para-a-morte; e na virada filosófica contemporânea para linguagem, finalmente o "ser" não se opõe a "nada", o ser se aliena, se aninha na linguagem. E na linguagem não há privilégio, nem mesmo o do ser da linguagem. A linguagem é múltipla, vive no e com o seu uso, para sair da linguagem ainda usamos a linguagem, e mais, é por meio dela que indagamos sobre o ... ser!
Esse é o enigma atual da Filosofia, seus caminhos bifurcados pela exigência de nos voltarmos para a ação permeada de linguagem, e poder perguntar, finalmente, há o ser da linguagem ou é a linguagem que nos traz e nos revela o ser?
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