Ser professor (a) de Filosofia muitas vezes é ver-se diante da dificuldade de expor de forma clara e compreensível temas e filósofos que parecem não fazer sentido algum.
A primeira atitude seria mostrar que a Filosofia não é como tantos a consideram, pura elucubração, pura abstração, pura teoria. A Filosofia foi considerada e mesmo chamada de "Filosofia Pura", e que esse tipo de qualificação seria o correto para distingui-la dos demais saberes, disciplinas e ciências. Daí a conclusão de que, ao contrário dos outros tipos de conhecimento, o conhecimento filosófico seria pura abstração e, portanto, estaria fora da realidade, e assim inútil e incompreensível.
Se formos considerar a linguagem hermética, os conceitos metafísicos e mesmo o pensamento da maioria dos filósofos, é possível concordar com os juízos acima. Exemplos não faltam, a lógica de Hegel, a ontologia de Heidegger, o eterno retorno de Nietzsche, e quem se aventura pelas investigações de Wittgenstein ou de Husserl?!
E dizer que houve um longo caminho atrás da formação do professor nos cursos de Filosofia, com paciência e muitos estudos, ler e reler e ao final do espinhoso trabalho perguntar-se, "Para quê?" O hermetismo pode ser frustrante: alguém irá ler seu artigo super especializado, sua dissertação de mestrado cujo destino pode ser apenas a gaveta, ou aquela tese doutoral que talvez nem os participantes da banca leram até o fim?
Tempo perdido?
A alternativa, recolher lições, em especial trabalhar com os conceitos, compreender seu sentido, a mensagem, o que tal ou tal filósofo quis dizer, suas ideias principais, as diferenças entre seus pensamentos. E mais, percorrer os caminhos da ética, da filosofia política, da epistemologia, da metafísica sempre buscando a compreensão das diversas escolas de pensamento.
A pergunta principal, o guia nesses meandros pode ser bem simples, a busca pelos conceitos e seu significado.
Vejamos alguns deles: ideal e real; teórico e empírico; verdade e dúvida; razão e sensação; subjetivo e objetivo; determinado e indeterminado; abstrato e concreto; forma e conteúdo; essência e existência; transcendental e imanente; fenômeno e "noumenon"; a priori e a posteriori; ser e não-ser; ser e vir a ser; necessidade e contingência; experiência e intelecção. Melhor parar por aqui!
Dado este passo, o professor poderia escolher alguns destes pares de conceitos e pedir aos seus alunos que escrevam frases em que se usam tais conceitos, tais palavras, e algo extraordinário surge: a linguagem que os significa, o sentido que aquelas palavras adquirem quando são usadas em frases que expressam um pensamento, um enunciado, um tipo de comunicação, um querer dizer algo a alguém.
E aquela antinomia tola, ensinar filósofos ou ensinar a filosofar, desaparece. Trabalhar com conceitos passa a fazer sentido. Exemplos: qual é o sentido da busca de Platão pelas essências eternas? Qual é o sentido da afirmação de Aristóteles de que todos nós temos por natureza o desejo de conhecer? E assim por diante, qual o sentido do pensar e ser de Descartes? Qual o sentido da crítica da razão para Kant?
Isso mesmo: os mestres da Filosofia são os nossos mestres em sala de aula.
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