quarta-feira, 12 de maio de 2021

A busca pela verdade

 As concepções filosóficas de verdade são tão diversas quantos são os filósofos, suas ideias e suas escolas de pensamento.

E, se é verdade (ops!) que tais concepções dependem de cada cabeça filosófica, a conclusão cética seria a de que é impossível chegar à verdade sem passar pelos filtros da história da filosofia. Surge então o dilema: ou aderimos a um filósofo e sua escola, ou renunciamos à verdade e mesmo à sua definição?

Não é preciso chegar a tanto. Percorrer a história da filosofia é esclarecedor, abre caminhos, renova o pensamento, incentiva a reflexão e proporciona admiração, quer dizer, a satisfação intelectual que resulta do saber.

E assim se dá o primeiro passo: saber é melhor do que ignorar. E saber implica percorrer caminhos com obstáculos, tais como o erro, a dúvida, o engano, o autoengano, a mentira, as ilusões. Não foi bem isso que Descartes fez?

E antes dele Sócrates propôs a douta ignorância, quer dizer, livre-se da ideia de que você tudo sabe, vasculhe o quarto escuro em busca da luz inicial, só sei que nada sei e a partir daí ironize, dispa o pretencioso e o dono da verdade de suas vestes, ponha a nu o rei...

Não gostou da via socrática? Que tal usar a forma lógica, raciocínios que concluem com certeza dadas as premissas iniciais? O silogismo de Aristóteles, que igualmente olhou o mundo a sua volta e preconizou o ponto de partida da experiência, obter verdade por meio da verificação, da prova empírica. E temos as diversas ciências sempre sujeitas à revisão e à conferência dos dados. Segura? Sim, confiável justamente por adotar a postura experimental, a abertura constante para fatos e para a reconstrução de fatos guiada pelas hipóteses e teorias, e claro, suas aplicações.

E que dizer então da verdade moral? Bem e mal se opõem e têm sua própria história. O ceticismo de Nietzsche é um convite para nos desembaraçarmos de prescrições que são impostas, de crenças que não são avaliadas e assim poder extrair de dentro de nós valores renovados. Mas como alcançar essa meta no mundo de ilusão das imagens gravadas e postadas a torto e a direito?!

E se todos vivermos sob o véu da ilusão, sujeitados ao inconsciente que não perdoa nada, que estrutura nossa mente? Se você não estiver deitado num divã, não se preocupe. A criança que cata no lixão tem outros problemas para resolver e isso também é muito, muito verdadeiro...

Finalmente, a conclusão provisória: há que usar a gasta metáfora dos caminhos, das vias e perspectivas e sempre colocar-se à disposição para o justo, o verdadeiro, o debate, à abertura e, principalmente, ao aprendizado. O que e como posso e devo eu saber? 

Desse modo talvez algo como a verdade seja preferível e mesmo indispensável, ainda mais nas circunstâncias atuais em que se mente a todos, o tempo todo.



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