segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O que é metafísica para Kant?

 Kant faz uma crítica à metafísica tradicional (Platão, Aristóteles, Descartes), que se baseia em noções como ideia, forma, pensamento, e propõe uma crítica rigorosa por meio de uma ciência entendida não no sentido de ciência natural, como a Física e sim uma ciência com princípios, determinação clara de conceitos, rigor metodológico, conclusões seguras. Esta ciência seria a metafísica. Seguiu Hume em sua crítica ao princípio de causalidade, quer dizer, a ligação entre causa e efeito decorre de nossos hábitos, as deduções que fazemos por meio da observação de fatos, o de que fogo queima, de que se afoga aquele que não sabe nadar, de que tal planta é comestível, etc.

Então, podemos e devemos desconfiar da razão, ela tem limites. Por outro lado, sem a razão seria impossível fundar princípios metafísicos, seguros e rigorosos. Para haver conhecimento seguro não se pode basear nos sentidos, eles podem nos enganar como Platão demonstrara. Mas, diferentemente deste, para Kant o ser em si mesmo, absoluto, independente daquele que o conhece, é inacessível.

Conhecer o que nos cerca requer o trabalho do intelecto, do entendimento, que digamos assim, é o fiel escudeiro da razão. Ele monta e desmonta o mundo das coisas sensíveis para nós, e isso sem cair na subjetividade, quer dizer, sem que o sujeito seja um tipo de ilha a captar o mundo por suas lentes pessoais e subjetivas. É que o subjetivismo impede a certeza, impede que o conhecimento do mundo seja compartilhado e assegurado.

A alternativa kantiana foi apostar tanto na razão como nos sentidos. O intelecto ou entendimento se "compõe" de conceitos que não dependem das impressões dos sentidos e por isso é capaz de organizar o mundo perceptível, ao mesmo tempo esse mesmo mundo perceptível entra no conhecimento como seu conteúdo. E mais, Kant acrescenta o fator transcendental e a priori. Digamos que a formatação do conteúdo sensível se dê pelos instrumentos do entendimento, e estes não podem ter origem na experiência pois seriam múltiplos e inconstantes, terão portanto, origem na própria razão humana. É esse o sentido de "transcendental", não confundir com transcendente que é tudo que está acima e além de nós. Exemplos: Deus, ideia platônica, o místico de Wittgenstein, o absoluto de Hegel.

Então, "transcendental" é a forma pela qual o entendimento põe ordem nas nossas experiências, por exemplo, localizando acontecimentos, dando a eles a forma temporal, a própria noção de causalidade passa a ser entendida como propriedade formal, nosso modo de conhecer os objetos que é um modo a priori.

E o que seria a "ilusão transcendental"? Se dependêssemos apenas da razão, se não tivéssemos as propriedades e conceitos do nosso entendimento, então a razão produziria a ilusão de que poderíamos ir além da experiência e chegar a uma causa geral de tudo. Kant confia nos predicados do entendimento e são esses os operadores, por assim dizer, da razão. A razão não corre solta, ela usa os princípios da sensibilidade e do entendimento. 

Mas, e quanto à necessidade que os seres humanos têm de postular um ser superior, causa de tudo, Deus? Isso é um abismo inescrutável para a razão humana. O Ser Transcendente e Absoluto não é acessível pelos nossos meios transcendentais. Há outros meios? Sim, os da razão prática. Tema para outra postagem.

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