sábado, 4 de abril de 2020

O cuidado de um ponto de vista filosófico

Quando iniciei o blog, o fiz por sugestão de colegas de minha filha, quando ela lecionava em uma escola de inglês.
O ponto de partida foi uma reflexão sobre o cuidado, ação que é vital para todos nós, para toda a humanidade como essa que experimentamos nesses dias tormentosos a serem enfrentados. Dessa vez o inimigo não é um exército, a fome, a pobreza, o ditador, o terrorista - o inimigo é o contato, o contágio, a contaminação.
Deixando de lado disputas políticas absurdas, chefes de estado perplexos ou irresponsáveis, perdas colossais nas economias locais e global, vamos ao que me propus: pensar, ir mais longe do que urge, do que é imediato, mas, claro, não menos importante.

Cuidar significa manter, sustentar, guiar a atenção para ações e comportamentos, lançar um olhar para os que são próximos, cuidar de si, e isso tudo pode parecer simples e banal, mas é o que sustenta a vida. E a vida é a abertura para as possibilidades e escolhas, que para muitos inexiste. Famílias de refugiados, trabalhadores em perigo, pobreza e miséria,  doentes -, para todos esses as escolhas são poucas e o perigo é imediato e real.
Mesmo assim, de modo geral, é preciso ter cuidado, sempre.
Senão vejamos: nos atos do dia a dia, para um simples café da manhã, foi preciso ir à padaria, ou ao super-mercado, pagar, portanto, auferir renda, trabalhar, escolher, atravessar ruas, usar um meio de transporte, ou prevenir-se e ter à mão o necessário. Enfim, em todas as ações, foi preciso cuidado.
É o proverbial, "Quem ama cuida", e também quem trabalha cuida, quem aguarda cuida, quem fabrica cuida, quem transporta cuida.
E o que seria o contrário?
O interesse próprio, o egoísmo, uma pretensa neutralidade e abstenção da realidade, a negação, a violência, a irresponsabilidade, a cegueira ideológica, o deixar-se levar, ignorar as circunstâncias, recusar informação fidedigna, o véu da ignorância.
As consequências para os previdentes e cuidadosos são benéficas, para os irresponsáveis as consequências são danosas, acontece que não só para si, mas sim, e principalmente, para os outros.
Habitamos um planeta, bilhões de pessoas que precisaram interromper suas atividades banais e de repente, perplexos, acordar para a vida, que requer cuidado especial com algo que era inteiramente imprevisível, buscamos o sentido disso tudo, e acordamos para a fragilidade da vida. 
Essa situação pode ser simbolizada pela máscara, algo avesso ao relacionar-se e que se tornou imperioso para o próprio relacionar-se!
Cuidar se transformou em isolar

O que diz Heidegger sobre o cuidado?
Somos seres aí, usamos, fabricamos, perdemos, procuramos, indagamos, e nossa relação desse ser-aí que somos com o mundo implica cuidado, e num sentido existencial, o da abertura para o mundo, o do orientar-se, seguir um rumo, coexistir,  e essa coexistência se manisfesta como cuidado, como assistência. Uma condição ontológica que hoje se tornou evidente e urgente.

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