sábado, 6 de julho de 2019

O pensamento mágico

Quem não gostaria de ter seus problemas resolvidos em um passe de mágica?
No século 16 acreditava-se que realidade e magia eram inseparáveis. As coisas se comunicavam umas com as outras ao que chamavam de simpatia ou se repeliam, era a antipatia. Sem distinguir entre as diversidade dos seres, sem classificá-los, todos se enredavam uns nos outros.
Foi nessa época que despontou Francis Bacon, nascido na Inglaterra em 1561, onde morreu em 1626. A crença em espíritos voláteis, no fantástico, nas fábulas, lendas e na alquimia, conviviam com a necessidade de expansão do comércio e defesa da marinha inglesa. O que levou aos estudos da astronomia (não astrologia) em prol dos estudos mecânicos. Havia necessidade de orientar os navegadores e aprimorar a navegação. Ao mesmo tempo surgiam as primeiras máquinas usadas na manufatura de produtos. Assim, técnica e ciência uma impulsionou a outra.
Bacon, o pai da ciência moderna, aconselhava o método da indução, quer dizer, experiências diretas com a natureza para verificar o que se conservava e o que mudava, e controlar essas modificações anotando-as em tabelas. Em resumo, Bacon preconizou o uso de método, inaugurou assim um novo tipo de mentalidade. Se desde Platão, Aristóteles e todo o medievo as técnicas eram subalternas, ligadas ao trabalho útil mas menos valorizado, menos nobre, para Bacon as técnicas eram primordiais.
Quando há necessidade de uma longa série de razões, a maior parte dos homens desvia-se do caminho e erra por falta de um método correto, dizia ele.
Manufatura de tecidos
E na modernidade? Prevalece o caminho da razão, da justificação, enfim, são adotados métodos e procedimentos racionais, ou não teríamos chegado ao estágio de desenvolvimento a que chegamos. Para fins por vezes antagônicos, como para preservar e favorecer a vida, ou para destruí-la. Isso é bem sabido, notório.
A pergunta é:
Por que o pensamento mágico e supersticioso perdura?!
A imaginação, os desejos, o inconsciente, a fragilidade e a capacidade de crer no impossível talvez expliquem porque o pensamento mágico e fantástico têm lugar no mundo moderno. Se ficassem restritos à arte que cultiva a imaginação fantástica, isso seria interessante e serviria para expandir os horizontes da criatividade.
Mas não, o pensamento mágico se aloja no dia a dia, seja nas seitas que orientam pessoas e se deixarem picar por cobras, seja nos rincões com cultos animistas, seja expulsão de demônios e "espíritos do mal" por pastores aos quais se concede poder mágico, seja pela crença em exorcismo ou em videntes. E nem foram mencionadas várias outras modalidades de "passe mágico".

Ora, o lado espiritual da vida pode ser sustentado pela paz interior,  pela iluminação que a fé proporciona. Nesse caso, a realidade não é anulada, pelo contrário, ela se reveste com as cores da luz interior. 

Esse lado benéfico contraste com o lado em que espírito se torna algo ininteligível, é quando esse "espiritual" se reveste de superstição, pode ser estímulo para a fraqueza, para o uso espúrio do sofrimento humano por uma autoridade, por alguém que se investe do poder mágico de solucionar aquele sofrimento. Nesse caso, a razão, os argumentos, o olhar para a realidade é substituído pela submissão ao detentor dos segredos e dos ritos. 

O inexorável método racional, da técnica, da ciência, da tecnologia abriu seu caminho, segue até nossos dias. Com sucesso e com falhas. Na maior parte das vezes o êxito tem sido superior aos fracassos. E assim prossegue a marcha humana, esse formigueiro de gente que habita o planeta azul.

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