domingo, 14 de outubro de 2018

O mundo das ideias de Platão

Quem estudou ou estuda Filosofia, com certeza conhece o mito da caverna de Platão.
O mito ilustra o mundo das ideias, o quão difícil é aceder a ele, as condições para sair da turva caverna e olhar o sol, a Ideia do Bem, acostumar a vista e, imbuído da luz, retornar e ensinar aos que estão presos às ilusões, à sombra, aos "factóides" diríamos hoje, a ver como as coisas são verdadeiramente.
E o que são as coisas, verdadeiramente?
Não como elas surgem a nós, pois esse nosso mundo consta de seres sensíveis, apenas aparência. A essência de cada ser é realizada na ideia sobre seres determinados. Há então uma essência de belo, de bem, e mesmo uma ideia/essência de mesa, de homem, de cão? Sim, se não houvesse ideia que unifica nosso conceito, não poderíamos pensar em algo determinado. As ideias são abstração de entes sensíveis desse nosso mundo feito de coisas efêmeras, que se vão. Se tudo passa, há necessidade de algo que não passa, que seja fixado e esse é um trabalho conceitual.
Mas como chegar aos universais, aos conceitos, às ideias?
Se fosse apenas por meio de comparação, de abstração dos entes deste nosso mundo, seria impossível pensar o mesmo, teríamos apenas nomes gerais e não essências verdadeiras.
Platão recorre mais uma vez aos mitos, a alma conhece antes de habitar um corpo as essências de todas as coisas. Conhecer é recordar tudo o que a alma contemplou antes de ficar presa ao corpo. 

Justamente essa visão de mundo que opõe sensível e mutável, a ideal e imutável, caracteriza o platonismo. Há que ir além do mundo, ou melhor, elaborar um trabalho interior, uma pedagogia do retorno ao inteligível, ao antes sabido, e alcançar a estabilidade e unificação da multiplicidade sensível. Do contrário ficaríamos presa da alma irascível, aquela que lida com coisas e não com ideias.
Pode-se dizer que esse idealismo platônico ainda repercute no pensamento moderno?
Sim, na busca por ideais. Os planos, projetos, intenções nossas, são todos projeções do que gostaríamos de ser ou de alcançar. 
A diferença com relação ao platonismo seria a de que nossos ideais se chocam com a matéria. Partem dela e muitas vezes precisam dela e dá-se uma inversão: a matéria sensível bastaria como ideal?
Há os que nem sequer pensam nisso, a caverna é seu ambiente. E há os que saíram da caverna, viram o sol, e entendem que nosso mundo é intransponível, mas pode e deve ser repensado, criticado. 
Lição a ser aprendida: procurar o bem, levantar o véu das ilusões e dos falsos líderes, esclarecer, lançar a luz sobre os erros, denunciar o corrupto, confiar na justiça. Aliás, a cidade ideal de Platão é aquela em que reina a justiça.

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