domingo, 13 de maio de 2018

A ética dos atos de liberdade de M. Foucault

As duas últimas obras publicadas por Foucault, o foram no ano de sua morte, 1984. Os títulos indicam que o tema é a história da sexualidade, mas não havia sexualidade no sentido biológico, médico, psicológico e psicanalítico tal qual desde o século 19 se compreende, nem para os gregos antigos e nem para os latinos do século 1 e 2 de nossa era.
Para os gregos tratava-se dos aphrodisia, quer dizer, dos prazeres e de como moldá-los no sentido de seguir hábitos de saúde, observar certo tipo de dieta conforme as estações do ano e a idade, respeitar o jovem efebo em sua virilidade nas relações que hoje chamaríamos de homossexuais. Ora, justamente, esse é um termo de ajustamento de condutas seguindo normas, próprio da modernidade.
E esse modo de avaliar a sexualidade em termos de normal e anormal sugere que a moral e a ética da carne, do pecado, das transgressões que nasceu com o cristianismo, se prolongou até hoje. Mesmo as tentativas de liberação, nada mais são do que o reconhecimento de que sexo é reprimido.
Para Foucault, não se trata de repressão e sim de uma pletora discursiva. Fala-se, às vezes veladamente, mas fala-se de sexo o tempo todo.
A ética grega e latina se dava em outra perspectiva. A da liberdade e autonomia sem que sexo fosse a questão dominante. A medicina oferecia conselhos para a prática mais prazerosa e oportuna, inclusive o regime do não desperdício nas relações sexuais.
Mas, o que essas práticas têm a ver com atos de liberdade, como cerne da ética?
Ao contrário de Marcuse que propusera liberar a sexualidade como forma política de emancipação, o eros não é central para Foucault. Quais seriam, pergunta ele, as práticas de liberdade que usaríamos para definir prazer, relações eróticas, amorosas e passionais? A ética como práticas que envolvem atos de liberdade, assumidos pelas pessoas e não impingidos por códigos e preceitos, com regras que definem o que é permitido ou proibido, tampouco a fala nos consultórios para extrair o sexo reprimido.
O modelo seria então, o dos gregos da antiguidade clássica: o justo meio, a modulação de seus atos em um estilo pessoal de vida, que poderia ser resumido na pergunta:"O que eu quero para mim?"
O difícil seria entender que não se trata de um "tudo vale", pois é preciso ser o dono de si, ter domínio sobre si mesmo, justamente, "a prática refletida da liberdade", uma arte de viver, e de viver bem. 

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