terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Qual é o valor da Filosofia para o grande público?

Filosofia está na moda?
Parece que sim, pelo menos para certos círculos, publicações e divulgação na internet. Entre os mais famosos e requisitados, estão Luiz Felipe Pondé e Leandro Karnal.
O primeiro se vale do tom agressivo, contestador de tudo o que normalmente se pensa, de valores reconhecidamente pertinentes, talvez com a intenção de provocar, de escandalizar, de reverter expectativas. Assim, se vocês consideram válida a beleza é melhor afastá-la ou bani-la, pois prejudicaria a igualdade, afirmou ele em texto recente. Ao mesmo tempo afirma que beleza é imprescindível, pois, "não seria verdade o que dizem: mulheres bonitas são caçadas a pauladas (sic!) no mundo corporativo", e outras tiradas do gênero. Seu objetivo: chamar a atenção, especialmente de desavisados que aceitam considerações desse tipo. Recheia o texto com vários pensadores, põe lá Dostoiévski, tenta impressionar pela sua cultura, e dá-lhe desancar o que ele considera como o pensar banal, normal, evidente do comum das pessoas.
Atinge o público, faz valer a missão da Filosofia? 
Nem um nem outro, levar as pessoas a pensar, rever seus valores, renovar seus critérios nada tem a ver com escandalizar ou reverter expectativas.
Mas, enfim, tudo bem que ele, Pondé, prossiga com suas "filosofadas", seus textos afinal, são publicados!

E quanto a Leandro Karnal, este é mais cauteloso. Começa suas falas num outro tom, mais conciliador, sempre citando algum filósofo para respaldar suas reflexões e considerações sobre o que melhor ecoa aos ouvidos do público ávido por pensamentos que acalentam, acalmam, ressaltam o que as pessoas têm de melhor. "Viaje para dentro de si" é preciso viajar sempre, já dizia Platão. Mas as viagens precisam instigar algo na vida das pessoas, transformá-las para melhor, não se acomode dentro de sua casa, saia e veja o mundo, etc., etc.
Numeroso público de Karnal 
Essas considerações penetram na mente e no coração, sim, é isso mesmo, compreendi o que o filósofo aconselhou, gostei de ouvir esses sábios ensinamentos.
Novamente, tudo bem que Karnal prossiga com essas lições de filosofia as quais, afinal, encontram um público cativo e com sede de algo diferente, não propriamente a auto-ajuda, nem doutrinamento político e nem a doutrina das religiões.

Isso beneficia ou prejudica a Filosofia, a dos pensadores clássicos, a que se ensina nas escolas, nos cursos superiores?
Considerar que o papel da Filosofia é escandalizar ou tranquilizar mentes e corações prejudica. Não que o academicismo não seja igualmente prejudicial, pois o jargão filosófico afasta aqueles que gostariam de aprender algo com os grandes pensadores.
Beneficiaria, até certo ponto, seria a contribuição para o debate em torno ao papel da Filosofia na sociedade atual, mesmo que para isso cometam equívocos. 

A Filosofia não pode servir de chicote e nem de paliativo.
A Filosofia deve possibilitar discernir, conceituar, avaliar, levar o pensamento aos seus limites.
A Filosofia é representada pelos próprios filósofos, não em um desfile rápido e incompreensível de suas ideias, mas de modo a que essas ideias possam ser compartilhadas, sem distorção, com aproximações cuidadosas e fiéis às suas propostas.

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