quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Michel Houellebecq critica filósofos franceses

Em entrevista à revista Época (14 de novembro 2016) o escritor francês Michel Houellebecq, polêmico como sempre, enaltece os escritores e desanca com os filósofos franceses da segunda metade do século 20. Afirma que Sartre e Camus nada mais têm a dizer, e que Derrida, Lacan, Deleuze e Foucault são incompreensíveis, suas frases são "bizarras" e sem "nenhum sentido".
Já ele próprio se julga grande escritor. De fato ele é o mais lido, premiado e traduzido novelista da França. Li duas de suas obras "Les particules élémentaires" e "La carte et le territoire". São interessantes, fazem refletir sobre nossa sociedade, os sentimentos humanos enraizados e que nos perturbam, como sexo, arte, política, destino das nações, França em especial.
Nasceu em 1958, prêmio Goncourt em 2010, cultiva imagem "dégoûtante".

Entretanto, escrever ficção o autoriza a tratar desse modo filósofos que fazem parte de uma geração influente com suas ideias e conceitos?
Ninguém nega que a leitura desses filósofos seja difícil. Filosofia não é fácil, difere e muito da literatura, que conduz o leitor para situações imaginárias, cujo ritmo e conteúdo atrai e necessariamente encanta, surpreende, prende a atenção, provoca sentimentos e sensações diversas.
No caso de Houellebecq, vêm à tona, amor, intriga, como a modernidade enfrenta questões políticas, éticas, científicas, como progresso pode também ser decadência. Definitivamente, escritor interessante e com enorme talento. Talento tão grande quanto sua soberba e orgulho, desprezo pelo que não lhe diz respeito. Considera-se merecedor do Nobel de Literatura, "não vejo na França quem possa estar mais bem colocado do que eu para isso". A cada vez que se depara com dificuldade para entender não só filósofos, também escritores e análises da política hoje, afirma que para de ler.

Voltemos à sua crítica aos filósofos. Ao mesmo tempo em que critica a obscuridade deles, enaltece os intelectuais. Ora, filósofos não seriam igualmente intelectuais? Segundo ele próprio, são os intelectuais que ampliam a discussão, disseminam suas ideias, ideias essas que têm poder e precisam de divulgação. Por acaso filósofos não fazem exatamente isso? Ah, ressalva Houellebecq, os intelectuais não podem ser acadêmicos nem pesquisadores!
Tudo bem, então de onde extraem suas poderosas ideias?

Se os filósofos são difíceis, incompreensíveis, é porque são filósofos. A escrita filosófica é conceitual, pode ser simplificada para se tornar mais acessível até certo ponto. Mas não é compatível com a Filosofia esfarelarem-se pensamentos, noções, ideias, conceitos. 

Em certo sentido, pode-se concordar com o escritor, muito do que os filósofos acima citados produziram é de fato ininteligível e/ou inacessível. E é justamente por isso mesmo que aqueles e outros tantos devem e podem ser criticados. Sim, pois deve-se poder questionar e obter respostas para: o que tal filósofo quis dizer? Qual é sua mensagem? A que conclusões o pensamento de tal ou tal filósofo conduz? E em que medida isso importa? 
Se o filósofo não responder a essas questões, lixo para ele. Nesses casos, Houellebecq tem razão... 

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