sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Pensamento crítico distorcido e a tese capenga do "golpe"

Que movimentos e organizações como UNE, MST, ANDES, certos artistas e vários grupos recrutados nas redes sociais tenham aderido à tese de golpe, é inaceitável, porém compreensível.
Que professores de Filosofia embarquem nessa onda, não só é inaceitável, como incompreensível.
Recentemente professores têm se defendido com o argumento de que estão lhes retirando o "pensamento crítico". Sem generalizar, não todos evidentemente, mas voltou a crescer o número dos que ouvem o canto da sereia e aderem à tese do golpe, sob a batuta do pensamento único que há décadas se plantou em certos meios universitários.
Mas quem lhes destituiu do pensamento crítico, sem aspas, forem eles mesmos. Como diria Kant, eles são os únicos responsáveis pela defesa de uma linha única, adotada e prestigiada, disseminada entre eles, e plantada em seus alunos. Não permitem que os outros pensem diferente,afinal, adotar o que seu mestre manda é tão mais fácil!
Os jovens, há muito ouvem apenas palavras de ordem, conceitos e velhos chavões como se representassem o pensamento crítico e este fosse único, como se toda a realidade social, política e histórica se resumisse em direita conservadora e esquerda revolucionária. 
Os pobres são oprimidos pelo "grande capital", justiça social apenas pelo socialismo.
Mas, o que seria o socialismo hoje? Como repartir igualitariamente bens, como eliminar bancos, financeiras, como produzir, viver e trabalhar sem meios para tal? Se são necessários saúde, educação, bem estar, capacitação, estudo, lazer, moradia, o Estado pode provir tudo? De onde o Estado e os governos obtêm recursos? Do trabalho, empresas e trabalhadores, um não existe sem o outro.
No momento se regozijam ao gritar que a democracia foi aviltada, que as eleições não foram respeitadas, Dilma foi eleita.
Sim, fazendo como o próprio PT preconizou, "o diabo", marketing que falseou, iludiu, amedrontou os mais pobres, de um lado, e de outro era preciso conservar as mordomias do poder, as falcatruas, o dinheiro desviado da estatais. Estatais golpeadas, governo sem rumo, recessão, desemprego.

Pensamento crítico da parte dos professores de Filosofia exige discernimento, abertura, estudo aprofundado e sério de filósofos os mais importantes. Quais seriam? Deem uma olhada em sua estante...
Restringir o pensamento crítico à adoção das teses de que houve golpe à democracia é distorcer o exercício do pensamento crítico. Antes de mais nada, por favor, leiam a Constituição, o direito à liberdade de pensamento, a possibilidade de destituir do cargo os que passam por cima de leis.
Em seguida, exponham aos seus alunos o(s) filósofo (s) e as teses filosóficas que ele (s) defende(m). Verão que não há um sequer com visão unilateral, nenhum deles falseia justamente a crítica, quer dizer, pensar, refletir, defender ideias e conceitos pelo uso da razão.
E, ao defender com argumentos seu pensamento, suas propostas, sabe que há outros que pensam diferentemente. Não irá ofendê-los, ouvirá o outro, e prosseguirá na defesa de sua visão, de sua escola. Não porque tenha certeza de que possui a verdade, mas porque é filósofo, ama o saber.

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