quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Paradoxos da Filosofia

Ser e pensar, assim o filósofo pode resumir sua atitude e sua atividade filosófica. Ele é aquele que reflete, quer dizer, para pensar é preciso ser, estar em presença de si para alçar às questões mais gerais e fundamentais da Filosofia.
Isso sempre fez sentido até que a pergunta sobre o uso, a utilidade e a importância da Filosofia fossem alvo de críticas, e mesmo de anulação da atividade filosófica. Quer se filosofe, quer não, tudo permanece o mesmo, diriam. Afirmar que todas as coisas se movem (Heráclito) ou que todos os seres precisam de permanência (Parmênides), conduz a uma contradição. Concordar com um leva a discordar de outro. Assim a Filosofia paralisa o pensar, se auto destrói pelo efeito de escolas de pensamento distintas. Qual teria razão, qual seria a verdadeira?
O outro argumento que conduz a um paradoxo, é mais atual: exige voltar-se para o cotidiano, para nossos atos e nisso se dissolvem todos os grandes problemas metafísicos, como "o que é mesmo a essência de todos os seres?" Essa pergunta não faz sentido, não se encontra um contexto para ela. Daí o paradoxo, se para filosofar é preciso contextualizar, e os contextos remetem ao uso normal da linguagem, entra-se no beco sem saída da filosofia, ao menos para Wittgenstein. Usa-se a Filosofia para sair da Filosofia, ou na imagem de Wittgenstein, usa-se a escada do argumento filosófico e ao chegar às conclusões, abandona-se a Filosofia.
Para sair da Filosofia, é preciso filosofar, negá-la é, ainda, refletir, ou seja, usa-se o filosofar para negar o sentido dos problemas metafísicos e ontológicos. Trata-se de um paradoxo: ao argumentar que "Ser", "pensar", "absoluto", "essência", etc. não fazem sentido, é preciso de qualquer modo refletir, e refletir é a atitude por excelência da Filosofia.
Como ficamos, então? Nesses casos paradoxais, o que resta ao filósofo?
Filósofos empregam seus esforços de abstração, de conceituação, de questionamento, mesmo sabendo que o risco é o de redução ao absurdo de sua problemática. Assim, a Filosofia vive, pois dilemas, contradições, paradoxos fazem parte da atividade filosófica. Impossível renunciar a ela sem filosofar, impossível analisar a vida, a linguagem, o mundo, a existência, a história humana, os valores, o próprio sentido de tudo isso, sem a atitude filosófica.
Quem nunca parou para pensar no fato da existência humana em um solitário planeta no espaço infinito?
Quem nunca parou para pensar em sua própria vida, na morte, no valor das lutas do dia a dia?
Desistir, enfrentar, levar adiante, observar, explicar, analisar, atribuir sentido, descobrir o sentido, e, de vez em quando iluminar sua existência com a luz do saber, em maior ou menor medida, todos fazemos isso.
Talvez esteja aí o sentido da Filosofia, talvez aí sua importância pedagógica e cultural.
Os filósofos são difíceis? Sim, mas podem ajudar nesse caminho de uma reflexão que não caia no vazio, nas ideologias fáceis, nas soluções óbvias.
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Questão filosófica:
Que sentido faz a Filosofia para um jovem sírio na arrasada cidade de Aleppo?!

Quem quiser ou puder, responda...

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