Quando Bruce Duffy, após seis anos de pesquisa, publicou em 1987 The World as I found it, já haviam transcorridos quase 40 anos da morte do filósofo (1951). Desde então não havia biografias sobre um dos maiores filósofos do século XX.
Em 1988 Brian McGuiness e em 1990 Ray Monk publicaram suas biografias sobre Wittgenstein. Monk contesta várias passagens do romance de Duffy, e este responde em uma conferência que realmente inventou episódios, como o das cartas que Wittgenstein teria escrito a seu pai. Evidentemente, o livro é um romance, ficcional, portanto.
Então a pergunta é: vale a pena percorrer quase 600 páginas em um inglês sofisticado, muito bem escrito?
Sim! O autor penetra no coração, nos sentimentos, no modo de vivenciar as dificuldades pelas quais passou o filósofo. Em acréscimo, dois outros autores importantes orbitam a narrativa, Moore e B. Russell. O primeiro sempre austero, praticando o que sua teoria do senso comum apregoa, e o segundo, prolífico, polêmico, mulherengo, famoso, e contestado por Wittgenstein em sua teorias da lógica e da matemática.
O público leigo em filosofia pode compreender a explanações acerca do pensamento do filósofo, o modo como ele enfrentou a 1a. Grande Guerra, as idas e vindas entre Viena, Londres, Cambridge, o interior da Noruega; pode absorver os dilemas morais e éticos, imaginar como teria sido sua infância, adolescência; os dramas íntimos nos relacionamentos com rapazes. O próprio biógrafo questiona sobre quem realmente conhecia Wittgenstein, esquisito, distante, enigmático. E a ficção ajuda ou embaraça a imagem que se tem dele?
Creio que ajuda, e além disso, com em toda literatura de qualidade, ficam as impressões fortes produzidas pela narração, é como se Wittgenstein estivesse presente nas descrições de suas andanças, de suas atitudes, de suas reações ao sofrimento, à morte de seus irmãos, seus esforços teóricos, o rompimento com teses aceitas, a inventividade, a complexidade da personalidade - tudo isso está presente no livro.
E o leitor ganha com a imagem que se cria ao longo do texto acerca de Russell e Moore, hábitos da época, consequências da guerra, o relacionamento ora amistoso ora conturbado de Russell com Wittgenstein.
Diria que as biografias oficiais são imprescindíveis e que o romance seria uma espécie de recheio, saboroso, desfrutável.
Ótimas observações,porém acredito que para quem queira uma biografia mais sólida não pode deixar de ler Monk. Abraço professora, tudo de bom.
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