quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O que é consciência?

Filósofos da mente a definem como estado cerebral alerta, desperto, atento com o que se passa no interior do sujeito pensante e no exterior, seu entorno, objetos, situação.
A que se oporia a consciência? Ao inconsciente, ao subconsciente, aos estados letárgicos (provocados por drogas, bebida alcoólica, medicamentos), ao sono.
Até aqui a conceituação é relativamente fácil, e há certa unanimidade. Alguns psicólogos e neurologistas podem até mesmo "provar" por meio de tomografia em qual região do cérebro são produzidos aqueles estados.
Já no campo filosófico há diferentes interpretações do que seja a consciência. Na filosofia antiga, o homem não era caracterizado como consciente, como sujeito individual pensante. Sua alma se dividia em alma intelectual,  digamos uma alma superior semelhante a um sopro divino (a psiché), a alma da coragem e a da concupiscência, que é a alma dos apetites e paixões. Pensamento não tem a ver com sujeito consciente e sim com sujeito racional. O homem é um animal racional para Aristóteles.
O termo "consciência" vem do latim "conscientia", que se traduz por "consciência, sentimento, senso íntimo, conhecimento"; "conscio" é o verbo que se traduz por "ter conhecimento, saber". É neste sentido que o usam Descartes, e depois dele toda a filosofia moderna, até hoje.
Os filósofos substantivaram a consciência, quer dizer, postularam para o sujeito uma condição única, indispensável, cuja capacidade é ter domínio sobre si e, ao mesmo tempo, ser o meio por excelência do conhecimento.
Sou o que sou por ter consciência disso, de meu eu. Ora, e o que é o "meu eu"? Minha personalidade, minha pessoa, o conjunto de meus atos, minha identidade, meus projetos (Sartre), o espaço e o tempo que ocupo, minhas ideias, tudo o que aprendi, minhas experiências, "eu sou e minhas circunstâncias" (Ortega y Gasset), resultado de minha infância, de minha vida emocional, de minha educação? E é possível acrescentar ainda outros fatores, como família, biológicos como herança genética, sociais como o meio, culturais, como a formação em certa comunidade. Sou eu apenas quando penso em mim? Não é estranho quando sob forte emoção e em certas reações impulsivas, esqueço de mim?
Acontece que ninguém se tornou o que é sem os outros, família, escola, amigos, inimigos (por que não?)... Trata-se da relação eu/outro, sendo o outro também um eu...
E que dizer dos fatores aleatórios, dos acasos, dos encontros, dos sucessos, dos fracassos, dos traumas, das alegrias, das recordações e dos esquecimentos (às vezes esquecer importa mais do que lembrar)?
Fomos longe demais, e a tentativa era "apenas" definir "consciência"!

E isso sem contar com um conceito capaz de virar de cabeça para baixo o dito acima, o de subjetividade.
Consciência subjetiva difere de consciência objetiva? E quando eu me torno objeto para mim mesmo, a autoanálise? Sob o olhar e a análise objetiva de meu eu, este se torna outro, estranho, um objeto? Isso é possível?
Chegou a hora de desenredar esses labirintos conceituais. De substância, o eu consciente passaria a um instrumento necessário para conduzir a ação, que se transforma, que é móvel e maleável, com usos na comunicação diária e na inserção social. Se assim não fosse, não haveria como adjetivar a consciência, por exemplo, "consciência política", "consciência corporal", "consciência de seus deveres...", "consumo consciente" e outros usos no negativo: "Fulano não tem consciência".
Reflexão de inspiração nietzschiana: a consciência se desenvolveu pela necessidade de comunicação, linguagem e consciência são codependentes. O homem inventor de signos desenvolve conjuntamente a autoconsciência.Os indivíduos precisam de noções como causa, sequência, reciprocidade, relatividade, número, lei, liberdade, motivos, todos como guias de sua ação, de sentimentos, emoções e impulsos. O que não significa desmerecer questões como mérito pessoal, responsabilização pelos atos, em oposição a pessoas indiferentes ou omissas.

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