Mesmo antes da religiões monoteístas, filósofos indagaram sobre o princípio de todas as coisas, sobre a causa primeira do universo. Demiurgo, para Platão, plasmou, isto é, deu forma às ideias que são a essência de tudo o que há. Aristóteles buscou a causa primeira no motor imóvel, que dá início à cadeia de causas. Sendo primeiro, não deve seu movimento a nenhum outro. Interessante que Aristóteles rejeita o nada, o vazio que precederia esse vir a ser geral.
Ainda na filosofia cristã, na Idade Média, São Tomás de Aquino seguiu a via das causas para chegar à existência de um criador. Há movimento, logo todo ser é movido por outro, como não se pode ir ao infinito, é preciso o primeiro motor, Deus (prova em tudo semelhante à de Aristóteles); há causas eficientes que produzem os efeitos em tudo o que existe, se não houvesse Deus, não haveria efeito algum; para haver geração e morte, é preciso um ser que não tenha sido gerado, o único necessário para gerar todos os seres; na natureza há graus de perfeição, o que requer o mais perfeito de todos, Deus; o universo segue uma ordem inteligente, não seguiria se não houvesse o ordenador maior.
De algum modo os filósofos teístas seguem um ou mais argumentos semelhantes, como Descartes que da ideia de perfeição concluiu pela existência do ser absolutamente perfeito.
E os filósofos ateus?
Há os que consideram impossível que a razão humana possa conhecer algo que a transcende, como Kant (que não pode ser considerado ateu), há os que sequer se preocupam com a questão e os que se declaram ateus.
Entre os últimos se destaca Nietzsche (1844-1900). A afirmação "Deus está morto" foi tão chocante quanto incompreendida pelos que divulgam e ensinam filosofia. Para Nietzsche tudo não passa de elucubração, de invenção humana, até mesmo compreensível se pensarmos na fraqueza e fragilidade do ser humano. A razão quando filosofa levanta a crucial questão da causa, do começo e do fim, de como a totalidade do universo veio a ser. Para Nietzsche não há nada fora do todo, e pensar assim, que não há necessidade de um espírito superior, liberta. Afirmar o mundo, afirmar a condição humana, pronunciar-se como um imoralista, quer dizer, para além dos gastos valores de bem e mal inventados para justificar a fraqueza humana, requer força, coragem, novos valores para a vida, nova vida com arte, criatividade, mais uso da intuição e menos daquele tipo de razão apegada à pergunta pela causa. Quem pergunta, o que responde, quais são os conceitos para responder? Valores humanos, linguagem humana, cultura humana.
O que concluir?
Usar a razão, argumentar e demonstrar são recursos da filosofia que podem levar a um ou a outro caminho. Seja qual for o caminho, o que encontra Deus ou o que encontra o homem em sua solidão cósmica, importa o uso que se faz tanto da reflexão como das crenças. Se para impor, explorar, escravizar, violentar pessoas ou se para libertar, abrir perspectivas, inspirar, respeitar pessoas.
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