
O que é se opõe ao que não é absolutamente. Algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Aliás, o tempo cíclico garante que as coisas permaneçam em sua essência e identidade. Nascer e morrer, geração e corrupção das coisas, faz da vida uma repetição das características das espécies.
A divindade (Zeus) é uma projeção de vícios e virtudes humanos.
Sem contestar o princípio de contradição para os discursos, Hegel (1770-1831) inaugura outra visão de tempo, de história, de natureza e de sociedade. Ele renova a metafísica posta em xeque por Kant ao entender que toda realização humana, seja na arte, na religião ou na filosofia, é obra do espírito, são ideias que movem a história. Essas realizações passam por mudanças. Para Hegel, houve o momento grego, uma cultura de harmonia na cidade-estado, legitimada pela representação do cidadão na pólis. Com o cristianismo houve nova transformação: todos podem pleitear representação mediante sua crença, há uma universalização do conceito de liberdade. E esta se torna plena nos Estados modernos. No início do século 19, após as conquistas napoleônicas, a Alemanha e a Prússia resgatam a representação política e a vida do povo como nação que se realiza em um tipo de moral social.
Hegel na chegada triunfal de Napoleão em Jena
A dialética é a lógica que expõe e que permite essas transformações históricas. Se houvesse simplesmente o ser e o não ser, algo e nada, teríamos duas "naturezas" distintas, fechadas em si mesmas. O ser não poderia determinar nada para o não ser e vice-versa. Mas, supõe Hegel, se olharmos para a história, as culturas e as sociedades, o que se tem é um movimento, um devir, o vir a ser isso ou aquilo.
Todo ser identificável, determinado, o é pelo não ser outro, e não por uma identidade ou essência fixas. Ser e não-ser só são inteligíveis pelo mover-se, pelo transformar-se.
E tudo culmina na plena realização do Espírito Absoluto. Em um céu platônico ou cristão? Não, na história moderna, na liberdade dos cidadãos.
Nietzsche (1844-1900) detona com todos esses conceitos. Não se deve buscar na história nenhum resgate, ela é feita de acontecimentos opacos, não há um Napoleão para encarnar o Estado. O próprio Estado e todas as instituições recebem uma marca, a das necessidades humanas, de troca, de vingança, de negociação. O tempo volta sempre, como em um imenso carrossel. Não há um valor transcendente, acima das lutas que envolvem desde a mesquinharia até a necessidade de poder. Em meio a esse tempo de condicionamentos, não há um absoluto e nem um devir a não ser aquele que serve para apascentar rebanhos, o dos conformistas. Ausência de fé, ausência de metas, de sentido e de valor, esses são os guias do niilista. Mas o niilismo não significa abandono ou renúncia absoluta, o puro não ser, o nada. Niilismo significa ir ao modo como os entes se manifestam, pelo eterno retorno do mesmo.
Concepção estranha e de difícil compreensão. É como se todo ente tivesse como condição ontológica a vontade de poder. Quer dizer, não se atinge nunca um fim, não há apaziguamento, e sim a vontade de poder que se distende sempre e nunca é satisfeita. Isso porque é impossível não haver obstáculos, e é covardia sucumbir a eles.
Inês, adoro seu blog. Fico feliz que, mesmo aposentada, continua a compartilhar conhecimento. Parabéns pelo conteúdo e pela disponibilidade. Abraços!
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