quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Natureza, sentimento e razão

Nós, seres humanos, somos frutos da natureza e pertencemos todos a um fundo natural. E isso pode ser interpretado de diversas maneiras, seja biologicamente, seja por meio de teorias filosóficas. Hobbes lançou a hipótese de que o homem em estado de natureza precisava lutar e defender seu território; Rousseau, também partiu de uma hipótese, mas ela era baseada no que já se sabia sobre povos selvagens no século 18. Ele dizia que em estado natural os homens dispunham apenas de seu instinto de conservação, não havia necessidade alguma de guerrear, não havia posse de bem algum, a abundante natureza tudo fornecia. Apenas sensações imediatas e nada de racional e muito menos moralidade.

A passagem para a sociedade se deu devido à escassez provocada por desastres naturais, e foi isso que suscitou o uso da razão, da deliberação, das escolhas morais. Foram necessárias trocas, e sem linguagem, para Rousseau, não há razão, não há lei, não há acordo. A perda da liberdade natural e da igualdade natural é compensada pela adesão de todos a uma vontade geral que firma acordos e acaba por igualar todos os homens perante o social, o legal, os governos.
Mas essa evolução do homem natural, puro sentimento, para o homem social, que faz uso da razão, não segue como pretendiam Hobbes e Rousseau, uma linha reta e ascendente.
Isso porque sociedades se encontram em estágios diferentes, em algumas ainda predomina a guerra de todos contra todos, não alçaram ao patamar social que implica cidadãos representados legitimamente por governantes; não se legisla, não há reciprocidade de direitos e deveres.
Mesmo em sociedades mais avançadas, o perigo de regressão é permanente. Pode se dar com um governo autoritário (como o de Bush, o de Putin, o de ditadores mundo afora) grupos armados (movimentos de guerrilha, desde as Farc e IRA até o Hamas); país algum é imune à violência causada pelo tráfico de armas e drogas.
Assim, somos parte da natureza, até gostaríamos de viver mais próximos dela, de termos uma vida na qual os sentimentos mais puros prevalecessem. Mas, naturalmente somos também movidos por um inconsciente que represa sentimentos e os faz vir à tona com a mais banal discussão de trânsito, por exemplo. Viramos bichos, como se diz.

Ao mesmo tempo contamos muito com a razão, ela não é apenas o que nos distingue dos animais como queria Aristóteles, a razão precisa da capacidade de usar a linguagem para diversos atos de comunicação (afirmações, pedidos, promessas) pelos quais nos relacionamos; precisa de práticas sociais, de códigos e signos. Esse é o lado "brilhante" da razão, formas e categorias puras investidas no uso comunicativo, a tese kantiana de Habermas sobre a racionalidade.
E há o lado cinza, obscuro da razão quando ela se manifesta por meio de discursos que marcam, que oprimem, que castigam, que dividem. Em geral esses discursos se dirigem aos mais fracos, às minorias, aos rejeitados. Pior: eles são disfarçados, pretendem ser científicos, assim escapam da dúvida. Verdade que oprime.
Como se vê, é quase impossível distinguir natureza, sentimento e razão...

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