segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A política da resistência segundo Foucault

Em uma sociedade super conectada, na qual pessoas não devem nem conseguem escapar da avalanche de informações que se acham disponíveis, basta clicar (evidentemente é preciso certo nível de educação formal, acesso a redes de comunicação, e também ter e saber o que dizer, o que procurar na web), será que os atuais protestos atingem o alvo, serão eficazes, há resistência aos poderes que Foucault chamou de "locais"?
O que são e como funcionam esses poderes locais?
A invenção de máquinas para produzir, para divulgar, para educar, para endireitar comportamentos e atitudes, para treinar, para examinar, para punir, para investigar, para vigiar se espalharam e passaram a fazer parte da criação e do exercício de normas.
Sociedade de normas é algo relativamente novo, vem de meados do século 18. A sociedade de leis é muito mais antiga, nasceu com as primeiras formas de governo.
Pois bem, as formas de governar nas sociedades de normas (que não deixam de ser de leis também) se modificaram e se transformaram nos últimos dois séculos, não por meio de guerras e revoluções apenas. A industrialização, o crescimento populacional, o surgimento de ciências que medem a riqueza (economia), o fluxo de pessoas (estatística), a vigilância de ruas e portos para maior e melhor circulação de produtos, a urbanização (saneamento e transporte), controle de natalidade, todos são fatores que exigem governar indivíduos pertencentes não a uma massa amorfa, mas a uma população. Saúde, educação, segurança, passam a ser fatores decisivos que testam a capacidade de governar.
Não mais o príncipe astuto que retira as forças de seus súditos, e sim governabilidade, isto é, investimento em localizar no espaço e no tempo indivíduos sujeitados (sem que eles se deem conta disso) a normas, a regulamentos, a modos de vida (famílias cada qual em sua casa, vacinados, reprodutoras de filhos saudáveis, aptos a serem instruídos e responder às necessidades da sociedade de regulação e controle), todos e cada um identificáveis, rebanho pacificado e útil. Só assim esse rebanho pode servir a novos modos de exercer poder: vigiar, treinar e capacitar indivíduos produtivos e dóceis de um lado, e a população registrada, encaixada, manobrável, suscetível de ser mantida em espaços controláveis e saudável o suficiente para produzir e reproduzir, para consumir e circular.

Industrialização, urbanização e crescente capacidade de produzir exigem novo modo de governar

Quanto maior a riqueza e a força de produção, maior o controle sobre o território e a população. Quanto menor, menor também o controle, menores também os índices de desenvolvimento.
Atualmente a China é o exemplo mais notório desse novo modo de governar mais de um bilhão de indivíduos com sucesso, extrair força, exigir trabalho regular, exaustivo, mas não excessivo a ponto de comprometer a produção e a competência. Em contrapartida o Estado não precisa fornecer armas e sim treinamento, disciplina, saúde.
Países da África, e sem esquecer o Haiti e outros da América Latina, nem tampouco os bolsões de pobreza no Brasil, são exemplos de menor controle, há um uso político do discurso da inclusão social, mas enquanto a miséria não atrapalhar a capacidade de o Estado governar, ela não precisa ser erradicada.  
As políticas de resistência visam esses poderes instalados nos maquinários que inventaram o sujeito moderno. Muito mais difíceis de resistir na medida em que nos tornamos corpos dobráveis com comportamentos normalizados, um número da população.
O limite da competência do governo será definido pelas fronteiras da utilidade de uma intervenção governamental, afirma Foucault em Naissance de la biopolitique (p. 42).

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