quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Hobbes, a violência e o papel do Estado

Hobbes ficou famoso com sua declaração de que o homem é o lobo do homem. No estado natural, primitivo, os homens competiam entre si, havia certo equilíbrio, contra a força física de uns era usada a astúcia dos mais fracos. Mas se um plantava e colhia, o vizinho queria se apossar da terra. Não havia paz.
A natureza humana, dizia Hobbes, é dotada de paixões, impulsos, e uma guerra pela sobrevivência se instala. Para não se entredevorarem, os homens entenderam que era preciso buscar paz. Mas como, se a luta pela vida não cessa?
Pelo pacto de não agressão obtido por meio de um poder que contivesse aqueles impulsos e fosse compulsório, absoluto.
Pois bem, Pinker, que se tornou famoso pelos seus estudos polêmicos sobre o funcionamento da mente, do cérebro e da linguagem, em seu último livro afirma que Hobbes estava certo, que a guerra de todos contra todos só pode cessar com um poder delegado e legitimado pela aceitação voluntária. Segundo Pinker, há muito menos violência hoje, se compararmos com civilizações mais antigas, pelos menos em número absoluto.
Discordo. Governos legítimos, com constiuições e leis, estado de direito democrático e um mínimo de segurança, isso existe em poucos países.
Um olhar sobre o globo revela que há luta para sobreviver nos países mais pobres, onde falta tudo: comida, segurança, educação, trabalho decente. E onde nascer mulher significa permanecer na ignorância e submissão!
Exemplos que ocorrem imediatamente são os dos países africanos.
Mas na China, que acumula riqueza e pode até ser chamada para injetar dinheiro em fundos monetários (salvar a zona do euro), há milhões de pessoas vivendo amontoadas, trabalhando de sol a sol, carregando como formigas a economia que mais cresce. E isso com censura, sem direitos políticos e sociais consolidados. Luta, sim, de todos contra todos.

***
Os acampados de Wall Street não gritam contra um sistema de competição regrado e sim contra o 1% que enriquece à custa de especulação, dinheiro para fazer mais dinheiro, improdutivo, fruto da ganância. Os atuais protestantes, ao contrário do que pregava Hobbes, não podem pactuar para se salvar do poder financeiro, e isso porque foram os próprios governos, caso dos EUA, que se viram obrigados (será mesmo?) a salvar os bancos. Deveriam pensar em reformar o sistema financeiro!
Saídas?
Prosseguir, contra Hobbes, na direção de mais liberdade, educação, democracias comprometidas com o bem estar de pessoas com direitos e deveres legitimados por leis e regras. O respeito ao estado de direito moderno não vem de um pacto, de imposição e nem da delegação do poder a um soberano absoluto. Ninguém gosta de baixar a cabeça. Saber viver bem é muito melhor do que tão somente sobreviver, ainda mais que para isso seria preciso abrir mão de sua própria liberdade e determinação.
No que apostar?
Talvez em  uma regulamentação internacional para o capital financeiro, contra paraísos fiscais e a especulação.
Modelos?
Grécia (a antiga!) com seus legisladores; Inglaterra desde o século XVII com a Revolução Gloriosa; França depois de acertar contas com as palavras de ordem: liberdade, igualdade e fraternidade; Estados Unidos com a invenção da federação e o respeito secular à constituição.
E o Brasil?
Já despertou como nação, falta ainda consciência de bem comum, mais seriedade no trato com o que é de todos e vale para todos.

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