sábado, 11 de junho de 2011

Entre ser e existir

O conceito mais abstrato em filosofia, desde os antigos até nossos dias, é o de ser. Trata-se antes de mais nada de um verbo de ligação, mas quando se diz "isso é tal ou tal", designa-se algo para alguém, esse algo é o ser.
Em filosofia o termo responde à questão fundamental para os gregos, o que é isto? Ela é aplicável a qualidades, como a justiça, aplicável às coisas, como esta casa, ao conhecimento como o que é a verdade, à natureza, como o que é o movimento.
Como todas as coisas vieram a ser, isto é, possuem a marca essencial e intrínseca, peculiar e intrigante, de ser? Antes de ser isto ou aquilo, tudo é. Cada filósofo concebe o que é o ser a seu modo, ideia para Platão, a substância inerente a cada coisa para Aristóteles, o pensar para Descartes, os fenômenos para Kant.
O que é o ente enquanto ele é, quer dizer, o que são as coisas enquanto elas são?
Desde há muito tempo costuma-se caracterizar a pergunta pelo que algo é, como a questão da essência. Essa questão torna-se mais viva quando aquilo por cuja essência se interroga, se obscurece e confunde, quando ao mesmo tempo a relação do homem para com o que é questionado se mostra vacilante e abalada, diz Heidegger.
O homem que pergunta, que questiona o que é a essência, descobre que essa é uma dúvida sua. Por isso Heidegger diz que o questionador e sua pergunta entram em uma relação nada sólida, nada clara. O homem é aquele que se propõe a pergunta pelo sentido do ser.
Não é incrível que em um planeta no espaço infinito, aquelas criaturinhas bizarras façam essa pergunta?
Mais recentemente a filosofia passou a distinguir entre as essências permanentes que constituem o ser das coisas e a existência.
Existir depende de um tipo de consciência de si, de se saber mergulhado e dependente do tempo, não do tempo cronológico, mas do tempo existencial; o ser que está aí, existe e inelutavelmente morrerá.
Qual é nosso modo de ser, dos entes humanos? Quem somos nós?
Compreensão, ir fundo na história, perguntar pela origem, escolher, isso é constitutivo dos homens. Nasce conosco a pergunta filosófica pelo ser das coisas.
Então, qual é o modo de ser dos homens?
É o modo da existência, estar aí no mundo, em uma situação, agindo, decidindo o que se pode ser, nossos projetos. Diferentemente de um garfo ou faca, de uma árvore, de uma cadeira, estar aí para os homens é capacidade de  decidir, liberdade. Não o utilizável. Estar no mundo significa transformar o mundo e a si mesmo, lidar com os outros e ser para a morte.
Aceitar e compreender isso é cuidar das escolhas, saber que há diversas possibilidades, que o que se espera pode ou não acontecer, e que o inescapável é a morte.
E, ao contrário, situar-se como coisa em meio às coisas, considerar as situações como se esgotando nelas mesmas, é viver no equívoco, tapear-se.
Nada mais inautêntico do que inventar um valor ou uma crença, apegar-se a eles e considerá-los como absolutos.
Quem vive na temporalidade, na historicidade livra-se desses apegos. Quem compreende que essa temporalidade faz surgirem as perguntas sobre o ser e sobre a existência, tranquiliza-se.

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