segunda-feira, 20 de junho de 2011

Alguns ensinamentos socráticos

Sócrates considerava que ensinar a virtude era o maior dos bens, e que esse ensinamento era incompatível com o que os sofistas defendiam, a relatividade dos valores, que os valores nascem de convenções sociais, que o homem é a medida de todas as coisas, quer dizer, todo conhecimento passa pelos nossos sentidos e impressões. O conhecimento nasce das sensações que variam, e, como o que vale depende de ocorrer de um modo ou de outro, é preciso ensinar bons hábitos de conduta para a pessoa discernir o que é melhor em cada situação, diziam os sofistas. Foram também eles que mostraram a importância da retórica, da correta argumentação como forma de convencer, de obter sucesso nas decisões políticas. 
Na época em que Sócrates viveu (470/469-399 a.C), ele era considerado como um filósofo sofista, mas nem ele e nem seu famoso aluno, Platão, pregavam a filosofia como se fosse a arte de argumentar. Sócrates deu a si mesmo uma missão, ensinar que nada se sabe, isto é, começar pelo reconhecimento de sua própria igonorância, uma lição de humildade e de desprendimento. 

No templo de Delfos encontra-se a inscrição "Conhece-te a ti mesmo”, saiba que você é humano, você pode errar, que você não é um deus. Apenas deuses podem pretender à verdade absoluta, seres humanos aprendem, indagam, duvidam, buscam o saber. Uma vida virtuosa e guiada pela moderação é capaz de oferecer aos que se voltam para si, para seu interior, poder distinguir entre o bem e o mal.
Mas como livrar o espírito dos erros e prosseguir no caminho do conhecimento? O que é erro? O que é verdade?
Sócrates  usa a ironia para mostrar que os que pretendem saber tudo, nada sabem. Conversa com seus alunos e amigos, e os conduz às perguntas: o que é o bem, a justiça, o amor, a amizade? As noções errôneas são desmontadas uma a uma, e isso incomodava, até mesmo irritava. Mas era o modo de o aluno perceber que seus conceitos eram equivocados, que ele poderia livrar-se de falsas definições e opiniões e prosseguir em um novo caminho, com uma nova visão. O próprio Sócrates não cessava de examinar e pôr em dúvida tudo o que ele recebera como certo. É preciso extrair o saber, fazer o parto das ideias, dialogar, interrogar até surgir na divina e eterna alma, alguma luz.


Ninguém é mau voluntariamente, essa é a máxima da ética socrática. A pessoa com pleno domínio de si, com pleno conhecimento, não erra. Quem desconhece o real alcance do que pratica é que comete injustiça, prejudica, engana, faz o mal. Daí a importância do filósofo, e de todo aquele que ensina, que faz as pessoas refletirem. 

Você se considera o melhor em seu ofício? Por quais razões? Quais são suas intenções nos negócios públicos?  Você sabe separar o interesse da polis, da cidade, de seus próprios interesses? O que faz você acreditar que é o melhor dos artesãos ou dos poetas ou dos políticos e achar que entende de outras coisas mais?

Sócrates, enfim, era um questionador, e quem retira o solo dos outros, precisa ser eliminado. Ele é acusado de corromper a juventude e acreditar em falsos deuses. Julgado, é condenado à morte. Sócrates se defende:
Essa ocupação não me permitiu lazeres para qualquer atividade digna de menção nos negócios públicos nem nos particulares; vivo numa pobreza extrema, por estar no serviço do deus. Além disso, os moços que espontaneamente me acompanham – e são os que dispõem de mais tempo, os das famílias mais ricas – sentem prazer em ouvir o exame dos homens; eles próprios imitam-me muitas vezes; põem-se a interrogar os outros; suponho que descobrem uma multidão de pessoas que pensam que sabem alguma coisa, mas sabem pouco, talvez nada.

E diz ainda:
Em toda a minha vida, em toda minha pouca intervenção nos negócios públicos, deixei patente que sou assim, como também sou assim nos negócios particulares, jamais assentindo com quem quer que seja e o que quer que seja fora dos limites da justiça.


Ele não teme a morte, pois ou sua alma é imortal e ele se reencontrará com os que já se foram, ou dormirá um sono eterno, morrer é igual a nada, a nenhuma sensação.

Quem vive conforme a virtude é feliz, e Sócrates praticou a virtude, aprendeu, aperfeiçou-se, portanto, foi feliz. Para isso não precisou de fama, riqueza e nem beleza (ele era muito feio...); buscou o equilíbrio, a justiça, o autoconhecimento.

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