sexta-feira, 8 de abril de 2011

Mente e pensamento

Se há algo que intriga e é objeto das mais diversas interpretações é poder pensar e considerar que há uma espécie de substrato para haver pensamento a que geralmente chamamos de mente (e não cérebro) ou uma capacidade que chamamos de "o mental", diferente do material, do físico, do palpável.

Para Platão, temos corpo mortal e almas, uma delas, a responsável pela inteligência, pela iluminação, pela sabedoria, é imortal. As demais são ligadas aos desejos, aos apetites, aos impulsos, diríamos atualmente.


Aristóteles também opõe a alma intelectiva ao corpo, o mesmo na filosofia medieval, o homem é corpo mortal, carnal, e alma imortal. Idem Descartes, o homem é um duplo, corpo extenso e material, alma pensante, imaterial.
O que leva esses pensadores à dividir mental/corpóreo?
Provavelmente a impressionante capacidade de pensar em algo, privadamente; imaginar algo, livremente; deduzir, raciocinar, mas também esperar, atentar, desejar, querer, e várias outras possibilidades que são rotuladas como mentais em oposição a algo físico, como andar, mastigar, atirar, empurrar, ou fazer algo em que alguma habilidade ou treinamento do corpo sejam exigidos.
Porém, quando se tem a intenção de atravessar uma rua, ou de dar um soco em alguém, ou preparar um alimento, isso é físico, material, nada tem de mental?
Pense no modo como se cozinha: comprar, armazenar, selecionar, decidir, temperar; também há o  tempo de cozimento, quantidade, qualidade dos ingredientes, e mais, muito mais. É preciso usar habilidades que foram aprendidas, pertencem a uma cultura, com resultados: satisfação ou não, obter o cargo de chefe em restaurante, movimentar feiras, agricultura, comércio, etc. etc.
Interessante que em nenhum desses casos foi preciso se deter no "mistério do pensamento"!
É por que não há mistério. Pensar em algo é uma ação aprendida, que muda conforme se trate de tomar uma decisão, projetar um móvel, pesquisar na internet, orar e agradecer a Deus, telefonar ao amigo(a), amar, planejar seu dia a dia -, em cada uma dessas atividades há um tipo de recurso ao que chamamos mente, ela é multitarefa, mas não é uma substância ou um substrato especial. 
Nem precisa ser reduzida ao cérebro, a neurônios. Sem cérebro, é claro que não há emoção, linguagem, abstração, aprendizado. Mas nosso cérebro não decide qual filme você irá assistir, nem qual nome você dará ao seu cachorro, exemplos corriqueiros, nos quais estão envolvidos gosto, predileções, valores.
 Admirar uma paisagem depende da mente, é mental? Fugir do perigo depende da mente, a fuga é mental? Escrever e ler dependem da mente, produzir um texto é mental?
O que há nisso tudo são nossas experiências ativas, a troca e o aprendizado do que significa tal coisa, tal ato, tal mensagem, em tal situação, para tal pessoa. Capacidades aprendidas, que fazem sentido em nosso humano modo de ser.
É preciso compreender o jogo de linguagem em que pensar, pensamento, mente, mental, físico, material são usados. Experimente usar a expressão "segredos da mente", por exemplo, em contextos de fala e saberá a que a expressão se refere, o que se quer dizer com ela. Para Wittgenstein, esse exercício bastante trivial dissolve renitentes problemas filosóficos, como esse que pressupõe que a mente existe.


Ver a ilustração acima como pato ou lebre, é um exemplo de como vemos aspectos e fixamos ora um ora outro.
Existem recursos como lembrar de algo, prestar atenção no trânsito, ler, ler em voz baixa, ler para si mesmo, e mais um sem número de ações.
O que também causa admiração é termos uma subjetividade, um eu. Esse tema fica para a próxima postagem.

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