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quinta-feira, 11 de maio de 2017

Pós-metafísica não implica em ser pós-moderno

Habermas, e também o sociólogo Max Weber, consideram que vivemos ainda a modernidade, cujos projetos não se esgotaram.
 Em contraposição, Lyotard representa o protótipo do filósofo pós-moderno e pós-metafísico (1979, A condição pós-moderna).
Quem argumenta melhor?
A modernidade se caracteriza pela descentralização do poder político, ascensão das democracias, forte industrialização, o capital e as forças produtivas contribuem para melhor e maior produtividade, intenso intercâmbio cultural, arte separada da religião, primazia da ciência e do profano, instituições baseadas em princípios. 
Essa enorme e profunda transformação social, econômica e política encontra reflexos na filosofia, seus princípios passam a ser alvo de reconsideração, de crítica, de debate e argumentação. Justamente, a entrada na pós-metafísica implica pensar de modo  linguístico e pragmático, pois o discurso filosófico se faz com argumentos e estes recaem sobre a ação (pragma) e não sobre sujeitos isolados e encapsulados em si mesmos. Logo, não há contradição entre  pós-metafísico e a sustentação de que a modernidade ainda vige.

Já para os adeptos da corrente pós-moderna, tudo se dissolve, a ciência mesma depende de paradigmas que são ou não bem-sucedidos e estes não produzem superações capazes de conduzir à verdade crescente e completa; nada é absoluto, impossível unificar perspectivas, pretender à totalidade é ignorar a multiplicidade das culturas e narrativas, em outras palavras, algo próximo a um poder fascista que anula diferenças.
Assim, ser pós-moderno inclui todas as condições para ser também pós-metafísico.

A quem dar razão, a Habermas ou a Lyotard?
Habermas, Rorty entre outros discordam de Lyotard, o primeiro ao apostar na comunicação sem entraves e sem limite, obra da razão comunicativa, capaz de reunir vozes dissonantes por meio do argumento calcado em razões, que podem falhar, mas que evitam a hegemonia do poder político e econômico. Quer dizer, confiança no direito e na democracia como meios para barrar a invasão de interesses escusos com seus efeitos prejudiciais, como a corrupção (no caso do Brasil, corrupção deslavada, criminosa e impune, até que justamente a justiça e o direito, com seus meios legítimos pusesse o dedo na ferida e mobilizasse a sociedade). 
O segundo, Rorty, ao preconizar que sociedades democráticas são as únicas a oferecer liberdade, condição necessária para que a verdade se produza; conversação, tolerância e práticas de justificação evitam o dogmatismo e o totalitarismo. 

A defesa das múltiplas narrativas dos pós-modernos leva filósofos e intelectuais a um beco sem saída, se tudo vale, por que dar-se ao trabalho de argumentar e justificar? 

Neste sentido, pós-metafísico seria incompatível com pós-moderno: a abertura para validar e questionar não faria sentido. Pós-metafísica não implica em pós-modernidade.

domingo, 29 de junho de 2014

Filósofos metafísicos e filósofos pós-metafísicos

A filosofia nasceu com filósofos metafísicos, como os gregos clássicos. A busca desses filósofos, principalmente Platão e Aristóteles, se dirigiu aos princípios primeiros de todas as coisas, às causas iniciais e às causas finais, quer dizer, a que se destinam os seres, quais são suas características essenciais, as propriedades principais que conduzem tudo o que existe a certo fim. Assim, o ser humano para Aristóteles, por exemplo, dirige sua conduta por valores éticos e políticos de realização plena. Como? Por meio do equilíbrio, da justa medida em termos éticos, individuais, e como cidadão na polis.
Até Kant, a filosofia com raras exceções, entre elas os filósofos céticos (Hume é um deles), pautou-se pela indagação "o que é o ser em geral?" e deu a essa indagação uma resposta com pretensão a ser a verdade final. Tomemos Descartes: o ser é o cognoscível, Deus inclusive, é nossa inteligência que conclui sobre a existência de um ser perfeito, e, sendo perfeito, logicamente deve existir. A razão passou a comandar a metafísica.

Kant desbancou a metafísica desse altar da razão, não há como saber se nosso conhecimento chega até os seres neles mesmos, isto é, independentemente do conhecedor. Nosso conhecimento depende de processos e procedimentos (as categorias), sem eles impossível saber algo do mundo que nos cerca.
Os ideais Deus, destino final da alma, e a razão de ser do mundo, questões essencialmente metafísicas, recebem resposta moral. No recôndito da alma humana há uma relação do homem consigo mesmo permeada pela consciência do dever moral. Kant eleva o homem à dignidade máxima, à liberdade máxima que permite decidir desapegadamente, a única e nobre finalidade é a realização de ações que refletem o que é bom para todos igualmente.

Pois bem, os filósofos pós-metafísicos vão em outra direção.
Nietzsche desmonta o edifício moral kantiano, o imperativo categórico manda que se obedeça a sistemas morais, o que não passa de uma tirania; não há sequer porque considerar o ser em si, pressuposto dos metafísicos. "O que chamamos de mundo é o resultado de uma multidão de erros", e "a coisa em si digna de um riso homérico, ... vazia, vazia de sentido". Isso porque noções como as de ser, causa final, bem supremo, noções morais, estéticas, religiosas são todas obra do intelecto humano, da ação humana, e cabe ao filósofo fazer a história da proveniência desses valores, todos eles humanos.

No século passado a filosofia se viu diante de novas questões, como a lógica da ciência para o positivismo lógico, questões sociais e políticas, a pergunta sobre a liberdade e sobre a existência que se "historicizou", por assim dizer. As perguntas que mais interessam à filosofia dizem respeito à compreensão do que fazemos, de nossa história, das transformações que sofremos, e do que podemos almejar com as condições criadas por nós. Antes, no século 19, Marx considerou que essas condições são as da produção material, transformações econômicas respondem à questão "o que somos, de onde viemos e para onde vamos?".
Ainda na vertente da filosofia alemã, a escola de Frankfurt atualizou o pensamento da esquerda e foi além da proposta de uma revolução que devolvesse os meios de produção ao trabalho e não ao capital.
Habermas reafirmou seu pertencimento à filosofia pós-metafísica. Para ele, sem a linguagem, sem a comunicação não há ordem social, o pensamento depende da linguagem, e a crise com a questão do ser em si (qual é a essência fundamental de todas as coisas), é recolocada: trata-se de um jogo de linguagem. Ou, mais precisamente, um ato de fala, uma pergunta feita por filósofos interessados na origem de tudo.
Então, tudo se enraíza na linguagem? Sim, mas evidentemente o mundo não é feito de linguagem e sim de coisas e suas interações. E como pensaríamos a respeito disso tudo sem a linguagem? Impossível para a filosofia pós-metafísica.