domingo, 20 de julho de 2025

O governo dos sábios

Ética e política deveriam caminhar juntas, não é o que se vê em nenhum dos atuais governantes, como ficou evidente com a guerra comercial, ideológica, de poder, de influência, de desgaste, de terra arrasada.

Vaidade, apego ao poder, arrogância, uma sociedade dividida, com extremos que se opõem, com prejuízo econômico, sem ter onde buscar apoio, sem poder tocar os pés no chão. A justiça se acoberta com soberba, seus atos e decisões interpretam a lei de acordo com a conveniência política, a proteção jurídica se transforma em perseguição jurídica, a desconfiança se espalha, as cabeças funcionam movidas pela cegueira a que o partidarismo conduz. 

O equilíbrio, a justa medida, a franqueza, os argumentos de nada valem. Esclarecer pontos essenciais para tomar decisão, justificar seus atos à luz da razão, medir as consequências, nada disso importa. A manutenção no poder, custe o que custar, se o preço for encarcerar, se o preço for abandonar a sociedade como navio à deriva, não importa.

O imperador Marco Aurélio, governou com sabedoria, justiça, e com o reconhecimento de que "o mais poderoso dos homens é feito de carne e osso". Há que se perguntar qual é o valor das coisas, a que afinal elas se reduzem?


Marco Aurélio, Imperador romano (121-180)

Dizer a verdade era para os filósofos estoicos tanto uma ética como uma técnica, por meio desse dizer o sujeito se torna senhor de si mesmo, franco, aberto, esse franco-falar protege contra a adulação, contra a sedução pelos elogios, o embevecimento pelo poder. Foucault em seus cursos no Collège de France se mostra um admirador da ética estoica. O sujeito ético é todo aquele que chega a um estágio de autonomia, quer dizer, responsável exclusivo pelo que diz e pelo que faz, ele/a diz a verdade e age de acordo com o que diz, essa é a base ética para governar a si e aos outros. Mas, onde estão hoje essas pessoas, quem seriam elas, como dar voz e espaço para esse tipo de compromisso, se o espaço político e social está dominado pelo desvario e mesmo pelo ódio mútuo?! 

O adorno se tornou vestimenta, o valor ético se tornou moeda de troca, o argumento se tornou estratégia de convencimento, sem nenhum pudor, o discurso de compromisso se tornou mistificador, enganador. Enfeita-se, provoca-se, incita-se, usa-se camuflagem. Autoridades se valem de sua interpretação da lei que aplicam conforme seu projeto pessoal, nenhum compromisso com o bem geral.

Muito difícil não haver apego ao discurso salvador, ao apelo do líder carismático. Ensinamentos da história são ignorados, a crença na pessoa e não no que o  governante deveria representar em termos de proposta, leva a todos de roldão para o precipício.

Quem nos resgatará? Onde está o público esclarecido?


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