"Autêntico" vem do grego, a junção de autos (a si mesmo, para si mesmo), com hentes, aquele que faz. Autêntica seria, então, a pessoa que faz com seus próprios meios, com seus próprios recursos, sem apelar para outrem. Autenticidade significa que algo é próprio, apropriado, que se sustenta sem estímulo externo, independente, capaz de autogestão.
O contrário seria então algo copiado, imitado, dependente, que não se sustenta. Seria alguém carente da opinião alheia, que necessita de aprovação, que segue a onda e a moda, inseguro, volúvel.
Há quem sustente que a autenticidade inexiste, pois tudo se transformou ou se transforma a todo momento, que tudo é cópia, simulacro, que "nada se cria, tudo se copia", que ninguém inventa nada do zero, que tudo está à disposição, pronto para o uso imediato, ou com arranjos aqui e ali, tentativas canhestras de renovação, de reinvenção.
Ao contrário, na arte a autenticidade é território privilegiado. As artes plásticas, a música, o cinema, carregam mensagem, requerem interpretação. A arte produz, tem efeito estético e transformador, abre para novos insights e perspectivas. Duvidar da autenticidade de uma obra de arte evidencia que para ela a autenticidade é essencial.
Outro território próprio à autenticidade é o dos valores. Não o valor utilitário e sim o valor de uma pessoa, de seus projetos, de sua ação. A pessoa autêntica não precisa de subterfúgios, nem de justificar suas ações o tempo todo para os outros com desculpas, muito menos para si mesmo. A pessoa autêntica não dissimula, ela se expõe integralmente para seu próprio julgamento, para sua própria avaliação, sem camuflar.
A autenticidade pode ser buscada inclusive em certos modos de produzir que dispensam o carimbo de uma marca. Produtos autênticos: o pulôver tricotado para presente, não possui etiqueta; o bolo de polvilho na receita antiga, não vem embalado; legumes, frutas e verduras direto do produtor, sabor local é seu único carimbo.
Entrega do leite, a marca? A da confiança.
A autenticidade rareia, há uma busca desenfreada pela exposição de si, pela idolatria, imitar é o padrão. No supermercado importa marca, preço e qualidade; a autenticidade seria a origem rastreada?
Um outro gênero de inquietude nasce do cuidado que o homem emprega em fingir e em jamais se deixar ver tal como é: é o caso de muitas pessoas, cuja vida é só hipocrisia e comédia. (...) Que segurança pode oferecer uma existência passada sob uma máscara? Que encanto, ao contrário, na espontânea simplicidade de um caráter que desconhece os ornamentos artificiais e que despreza disfarçar-se! (Sêneca, filósofo estoico, condenado por Nero ao suicídio, ano 65).