Há características comuns às várias escolas filosóficas, tais como: apartidarismo; universalismo; análise conceitual; busca do que é essencial; pertencimento a uma escola de pensamento; fundamentação lógica, metafísica ou ontológica; razões para a existência humana; perspectiva ética; relação sujeito/objeto; bases do conhecimento.
A cada época, antiga, medieval, moderna e contemporânea, um ou outro desses temas é privilegiado. Assim a metafísica para os antigos e para os medievais, a teoria do conhecimento para os modernos, a condição da existência e a historicidade para as escolas mais recentes. O que não implica que um filósofo contemporâneo aborde temas metafísicos e ontológicos, nem que um filósofo na antiguidade não tivesse abordado questões políticas, como Platão, por exemplo. A diferença está na base, nos pressupostos.
Os pressupostos dos filósofos gregos são o cosmo e sua origem, a busca da essência de tudo o que há, o pensamento racional e conceitual, a metafísica do ser, das causas e princípios. A esses temas, a filosofia cristã sobrepôs Deus.
O homem que pensa e conhece, seus limites e fundamentos, é tema dos modernos, como Descartes e Kant.
A historicidade e finitude são questões contemporâneas, o ser humano em sua concretude e limites, o que há para esperar, ou confrontar; a ação política; a linguagem; a sociedade.
Na relação entre essência e existência, a filosofia clássica privilegia a essência, os mais modernos privilegiam a existência. Essência é o imprescindível, aquilo sem o que algo não é nem vem a ser. O vir a ser, as mudanças se devem ao que a essência contém em si, potencialmente. Não havia noção darwiniana de transformação na cadeia evolutiva, pois cada ente atualiza apenas sua potencialidade. A capacidade de vir a ser está contida integralmente no próprio ser. A natureza faz brotar o que está em germe, pois do nada, nada pode provir. Os seres são o que são em sua essência, prontos, acabados, e, para os medievais, obras perfeitas do criador.
"Pensador" na versão de Mikhail Nesterov.
A Filosofia não morre enquanto houver um único ser pensante na face da Terra.
Na relação entre essência e existência, a filosofia moderna realça o ser humano pensante, sua existência concreta tem como essência o pensar, o cogito, a razão. Existir é deduzido do pensar, o homem em carne e osso ainda não tinha nascido, como observou Foucault em As Palavras e as Coisas. Ele ainda era sujeito de uma razão pura, sem os esquemas a priori ele não pode aceder às coisas e nem a si mesmo, pois que para tal depende de conceitos, como o de espaço e tempo. O transcendental kantiano pressupõe uma rede para ser e conhecer, e para a ação reta, para a moralidade, o pressuposto são princípios absolutos e necessários, como a noção de dever.
O homem contemporâneo nasceu quando Nietzsche anunciou a morte de Deus, quer dizer, o homem está só, e tem que se haver com sua fraqueza, seus valores inventados, seus limites, e esse foi um caminho que existencialistas e Heidegger seguiram. No outro lado estão as filosofias da historicidade, a concretude se deve às leis de mudança histórica, a base material do homem pode ser igualmente a melhor chance para sua redenção, uma vez que as condições históricas, sendo pelo próprio homem criadas, podem sem igualmente por ele mesmo modificadas, como pensara Marx.
Mas esse homem foi divinizado, essa materialidade virou seu destino, o da revolução salvadora. Há que chamá-lo de volta à terra. Terra de seus condicionantes, a sociedade, a linguagem, a produção, os anseios políticos, ao planeta em crise. Ainda assim a filosofia sobrevive, e la nave va.