segunda-feira, 1 de julho de 2024

Foucault no sufoco

Em reportagem da Gazeta do Povo, 06/06/2024, James B. Meigs critica os rumos da revista "Scientific American", por descuidar e desprezar a ciência e a pesquisa científica, devido às tendências do politicamente correto, e um dos fatores seria a influência de Foucault, que "argumentou que a objetividade científica é uma ilusão produzida e moldada pelos 'sistemas de poder' da sociedade".

Foucault mal sobrevive espremido entre essa avaliação deturpada da direita e o enaltecimento da esquerda como revolucionário, de que é preciso fazer o "desmonte" das prisões e do Estado. Ora, nem um nem outro. Foucault estudou os discursos que são práticas com efeitos nos sistemas de saber e de poder, mas a ciência comprova, verifica seus enunciados. Ele jamais afirmou que não há objetividade científica e nem que prisões devem ser eliminadas. 

Quanto às prisões, resultaram de um novo modo de punir por meio de um tipo de poder e de saber que, desde o século 18, disciplina, reparte, isola, vigia. Há uma interdependência entre a polícia, os delinquentes e todo um maquinário médico e jurídico, mecanismos e estratégias do sistema prisional.


1926-1984
Foucault marxista, pensador de esquerda?!

Marx seduz pelo seu discurso profético, promessa redentora para os explorados. Foucault é um conhecedor do marxismo, o Marx que o partido comunista diz que deve ser usado, esse tipo de exigência é ideológico, a noção de poder fica fechada em uma teoria política. Ao passo que para Foucault, houve uma mudança no modo como o poder é exercido, por exemplo, sobre os corpos com efeitos sobre saúde, surgimento de academias, produção de beleza, preocupação com a saúde infantil. Ao mesmo tempo, esse corpo saudável e consumidor se liberta contra normas morais da sexualidade. Difere da análise marxista do corpo atado à fábrica, poder repressor que a revolução comunista libertará. 

Foucault vê outro lado, a constituição de regras, normas, discursos, separação entre normal e anormal.

 Quanto à ciência, ela é produzida em e por sociedades cujos mecanismos de poder mudam, por exemplo, a relação entre a biologia e a agricultura. Mas isso não significa que comprovação e cálculos, que retificações e experimentos, sejam diretamente dependentes e sujeitados aos mecanismos de poder, sejam eles do Estado ou da sociedade disciplinar, como afirmou sem nenhum fundamento James Meigs.

O filósofo não é pedagogo, não é profeta, não é legislador. Ele elucida, mostra estratégias de resistência ao tipo de poder que normaliza, não se o poder é legítimo ou ilegítimo, se a questão é moral ou de direito. 

O que é essencial em nosso cotidiano? Lidar com a morte, a doença, a penalidade, a prisão, o crime, tudo o que toca a afetividade, a vida e nos angustia. O que podemos mudar, como resistir, e isso não é questão de tomada de poder, nem de revolução.

Pense: por que razões a prisão, tão criticada prevalece? Então você terá um retrato de nosso tipo de sociedade. Outra pergunta: como nos tornamos indivíduos que são instados a dizer o seu íntimo, por quais mecanismos de saúde e de educação nossa subjetividade se constituiu?

Para finalizar, Foucault foi um crítico do partido comunista, monolítico e burocrático, nas palavras dele (cf. p. 614, vol. III, Dits et Écrits). Para não dizer violento, com líderes capazes de envenenar opositores...

O título de uma de suas numerosas entrevistas fala por si (p. 595, vol. III de Dits et Écrits): "Metodologia para o conhecimento do mundo: como se livrar do marxismo".

Conclusão: sejamos inconformistas!














Nenhum comentário:

Postar um comentário