domingo, 17 de março de 2024

Ser menina adolescente na Índia

 Mês da mulher, até quando precisaremos dessa homenagem? Chegará o dia em que possamos sair à noite, atravessar uma praça sem temer uma abordagem ou algo mais grave, até mesmo ataque, estupro e morte?

Em 2017, em uma aldeia na Índia, pouco povoada e muito pobre, uma menina de 13 anos foi retida após uma festa de casamento, seus pais se retiraram mais cedo. Lá por uma da madrugada o pai encontrou a filha em estado desolado, inconsolável. Ela contou ter sido violentada por três rapazes que a largaram prometendo matá-la se fossem denunciados. Rapazes conhecidos de todos. O exame médico constatou o estupro, e tudo poderia ficar assim, eram costumes da aldeia tolerar e, em caso de denúncia, oferecer a "dádiva" de casar com um dos agressores. Isso restauraria a honra. Oferecer a menina ao agressor, casar-se com quem a violentou?!

O pai, a pedido da filha traumatizada, foi à justiça. Processo longo, cheio de empecilhos e o mais desalentador, a aldeia se voltou contra ele, pequeno agricultor, pobre, mas instruído e determinado: "Tudo o que se faz com honestidade dá certo", disse. Ele e toda a família passaram a ser hostilizados, ameaçados de morte. A determinação de ambos, pai e filha, é inusitada no país e, mais ainda na aldeia. A menina pede para que ele não desista. A coragem do pai por vezes esmorece diante de ameaças de morte, de incendiar a casa. Como a família ficaria se ele morresse?!

 O pai, um homem de bem.


 Depois de meses e de alçar a várias instâncias, o conselheiro condenou os três jovens. A comunidade não aceita esse tipo de punição, a pena de 25 anos é considerada "injusta". Os hábitos e valores que prevalecem são os de que homens podem tudo, a mulher é subalterna, desprezível e culpada por ser mulher!

Disseram para o pai: "Você não pode matar um tigre sozinho", ao que ele respondeu: "Vou mostrar a todos que eu posso". 

Daí o título do documentário "To kill a tiger", produção canadense (2022), com vários prêmios e indicada ao Oscar (desculpem o spoiler).

***

Creio que muitos devem ter acompanhado o caso recente de um casal de brasileiros, que, também na Índia foi abordado, ele espancado, ela estuprada, não levaram valores e culparam o casal por não terem acampado em lugar seguro...

A reportagem completa está em https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/estupro-violencia-mulheres-turista-india-perigoso/?comp=app-android

Vale também assistir ao documentário na Netflix "Você não está sozinha, a luta contra la Manada", do qual extraí a mensagem que inicia este texto.

 


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