segunda-feira, 8 de março de 2021

Ciência e religião em uma visão pedagógico/filosófica

E se religião e ciência fossem somente "invenções humanas"?

Essa é uma pergunta que pode provocar polêmica e incompreensão.

Se não vejamos:

Ambas nasceram de situações, sentimentos como o de medo ou de ocorrências surpreendentes, imaginação, projeções mentais, necessidades como a de sobrevivência, a vontade de obter explicação para tudo, ambas trouxeram sim respostas e seus efeitos são permanentes e profundos.

A partir dessas considerações, se separam os caminhos, aquele traçado pela religião com suas marcas e efeitos, em contraste com os caminhos da ciência, idem com suas marcas e efeitos.

Fé de um lado, crença na palavra sagrada, na salvação da alma, na redenção dos pecados, nas profecias, nos ritos, em uma palavra, em Deus. Para quem tem fé, a religião não é humana e sim divina.

Pesquisa baseada em métodos de outro lado, investigação, cálculos, resultados comprováveis, avanço simultâneo com diversas técnicas e tecnologias, e, como constatamos em época de pandemia, pesquisa laboratorial avançada para a produção de vacinas, como exemplo claro e notório da necessidade da ciência. Uma invenção humana.

Essas diferenças não anulam nenhuma das duas, religião e ciência têm seu lugar e papel na sociedade e na história da humanidade.

Volto à obra Montanha Mágica e aos personagens que defendem um, a religião, o outro a ciência e o progresso da humanidade. A indagação que não quer calar é a seguinte, e isso da parte do próprio autor, Thomas Mann, que depois parte para o confronto entre Nafta e Settembrini. 

E o que indaga T. Mann?

Não seriam Deus e Diabo princípios? Pergunta inusitada e surpreendente, dá o que pensar, produziu em mim profunda inquietação. Se são princípios, então guiam nossa ação, valores, decisões, visões de mundo. Seriam talvez Bem e Mal nas considerações de Nietzsche?

E o mal de que trata a obra, a doença? Como encarar a doença, perguntam os personagens no início do século 20 (e nós hoje temos essa mesma dúvida). Para o jesuíta, tem a ver com caridade, com interesse em salvar sua alma, na visão cristã o corpo é a prisão da alma, ele é corruptível, a voz da humanidade sempre será, quem ou o que irá libertar-me do corpo mortal? "O corpo uma cortina entre nós e a eternidade", afirma Nafta, o judeu/jesuíta, e acrescenta: "denn Mensch sein, heisse Krank sein" (então ser homem, quer dizer ser doente).

Por sua vez, o pedagogo Settembrini afirma que doença é doença, e a eternidade, na voz da razão é algo a que a humanidade não chegou. A loucura, por exemplo, é uma doença. Nos manicômios é possível ter uma conversa racional com loucos, entrar por assim dizer, em suas alucinações. 

Em suma, vale a razão. 

E nós, brasileiros?!

A razão submergiu nas alucinações, essas sim reais, de nosso atual governante e de seus asseclas...

2 comentários:

  1. Lembrei-me de um tweet do Richard Dawkins postado dois dias atrás: "Science is not a social construct. Science’s truths were true before there were societies; will still be true after all philosophers are dead; were true before any philosophers were born; were true before there were any minds, even trilobite or dinosaur minds, to notice them." Indago-me: não estaria ele cego pela... razão?
    Sobre os loucos, penso que seria mais produtiva uma conversa "racional" com eles do que com o desgovernante e sua corja. A estes não faltam razão; faltam-lhes humanidade.

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