domingo, 22 de abril de 2018

Argumentação é o melhor meio de evitar intolerância

Em um de seus romances, Haruki Murakami escreve o seguinte:

"Às mentes estreitas falta imaginação. A intolerância, as teorias desligadas da realidade, a terminologia vazia, ideais usurpados, sistemas inflexíveis. Essas são as coisas que realmente me assustam. O que eu absolutamente temo e detesto. Claro que é importante saber o que é certo e errado. Erros de julgamento podem quase sempre ser corrigidos. Desde que você tenha a coragem de admitir enganos, as coisas podem ser contornadas. Mas as mentes estreitas e intolerantes, sem nenhuma imaginação são como parasitas que transformam o hospedeiro, mudam de forma e continuam a vicejar. Elas são uma causa perdida ..." (in Kafka on the Shore, p. 181).

Vivemos esse tipo de sociedade e de mentalidade nos dias atuais. Ao invés de argumentar, procurar informar-se com fontes idôneas e fidedignas, por na balança prós e contras, as pessoas mergulham de cabeça, sem pensar, na primeira leva que os fascina. Em geral caminhos fáceis, com doutrinamento ideológico pronto para o uso, com palavras de ordem ocas, mas que servem para fazer barulho, que podem ser pichadas e berradas pelo megafone.

É preciso pensar antes para poder argumentar com mais acertos do que erros.
Mas como saber se há correção ou não?
Não é fácil, isso requer paciência, preparo e abertura de mentes.
Ou como ensina Habermas, a ação que comunica passa antes por três "peneiras":
- Constatar fatos e situações, o que permite entendimento acerca de uma verdade no mundo objetivo. Por exemplo: antes de condenar ou absolver, juntam-se evidências que são expostas ao julgamento e que são permeáveis à contestação ou comprovação. É preciso compreender de que se trata, o que evita pré-julgamentos e pré-conceitos.
- Comunicar-se com alguém nos círculos sociais, no mundo socialmente compartilhado afim de situar as ações com relação às normas, com relação ao que podemos e ao que devemos fazer.
- Entrar em entendimento uns com os outros requer também sinceridade de propósitos, convenhamos, algo difícil. Não só o que se diz e como se argumenta, importa igualmente o que se pretende com o dito. Se o propósito for manipular ou exercer influência indevida, a comunicação falhou e entra-se no terreno das disputas em que vale justamente ganhar, influenciar, derrotar o adversário.

***
As redes sociais infelizmente alimentam a intolerância, a irreflexão, as divisões e os caminhos curtos que ignoram até mesmo de que se está falando. Importa aparecer, estar por dentro, considerar que apoiar tal ou tal seita ou ideologia é obrigatório. Que se está no único lado certo, politicamente correto. Como diz Murakami, "uma causa perdida"!

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