terça-feira, 12 de setembro de 2017

Foucault, um incompreendido

Sim, poucos leem Foucault de fato, daí não compreenderem seus escritos, seus propósitos e suas críticas. Há os que o criticam e não entendem, há os que o apoiam e divulgam, mas acabam por distorcê-lo de modo a sustentar seus próprios mitos, como se Foucault fosse uma cornucópia de onde se podem retirar toda e qualquer ideia "combativa".
Nada disso se sustenta.
Dia desses li com espanto o seguinte absurdo: "Numa espécie de pedagogia à la Foucault, a escola foi igualada à caserna e ao hospital psiquiátrico, todos equiparados à prisão, no sentido de um espaço para o controle e a 'disciplinarização do corpo'".
Pois bem, quem afirmou isso é um crítico da nova pedagogia baseada no princípio de que o aluno deve ser livre para se manifestar, renunciar à tal disciplina.
Nem esse é um modo correto de ler "Vigiar e Punir" da parte dessa nova pedagogia, a intenção de Foucault jamais foi propor que suas leituras do nascimento da disciplina signifique um "então temos que liberar geral". E nem está correto afirmar que Foucault poderia inspirar tal pedagogia.
Um pouco de esclarecimento:
Foucault é autor polêmico, muitas vezes fustigado pelo fogo cruzado da velha esquerda por ter se voltado para prisão, sexualidade, loucura, temas pouco ortodoxos, e pelo fogo cruzado dos atuais críticos dessas tendências de fato cansativas de atribuir a Foucault o que ele não disse. E há os que o criticam por razões equivocadas. Então, vamos lá.
Foucault pesquisa a história em documentos esquecidos, analisa como surgiram as ciências humanas, como doenças passaram a ser tratadas pela clínica, como a loucura passou a ser tratada como caso médico e internada, como a escola, os hospitais, a prisão se instituíram por meio de recursos tais como visar o corpo de modo a calcular suas forças (trabalho nas fábricas), dispor de espaços individualizados para obter melhor resultado na escola, punir por meio de prisão e não mais por tortura, forca, esquartejamento.
Esses procedimentos, em comparação com os meios do século 17 até meados do 18, são mais eficazes por mudarem o comportamento de indivíduos, pelo lado da sujeição suave. 
A torre dos castelos vigiava para fora, como alerta para a aproximação do inimigo.
A torre de vigilância das prisões serve para vigiar internamente e individualmente, disciplina, ordena e impõe certo tipo de comportamento.

O filósofo é um crítico de nossa época, sem se dar uma missão salvífica ou revolucionária, apenas apontando para certas práticas, como elas surgiram e quais são seus efeitos.
Jamais pretendeu que a escola deveria virar um "podemos tudo", "abaixo a disciplina" ou algo semelhante. Escolas não são prisões, evidentemente...
Foucault fez certos diagnósticos de nossa sociedade, como produzimos, inclusive, verdade, aquela de tipo estatístico, médico, mas isso não implica invalidar a pesquisa científica!
Enfim, Foucault deveria ser melhor estudado, ou mesmo, deveria ser esquecido como Baudrilhard escreveu, mas não pelas razões apontadas pelos filósofos da pós-modernidade.
Sim, deixem Foucault em paz, esqueçam-no!

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