quarta-feira, 3 de abril de 2013

O que é relativismo?

Em filosofia há diferentes concepções sobre a possibilidade da verdade. O relativismo é uma delas. Protágoras (480-410 a. C.) considerava que o conhecimento do que nos cerca vem dos sentidos. As percepções variam de pessoa a pessoa, e também conforme o tempo e o lugar. Se duas pessoas discordam a respeito do que estão observando, é provável que ambas estejam corretas (ou não...).
Historiadores, sociólogos, e, claro, filósofos, defendem a tese de que conforme o contexto histórico, cultural ou de acordo com o nível de educação, de informação e da situação em que se encontram grupos e pessoas, o juízo que fazem a respeito de fatos ou de acontecimentos, de valores ou de avaliações, de opiniões ou de posições, tudo isso varia, quer dizer, é relativo. Não há verdade absoluta, acima da situação social, acima do contexto cultural e histórico.

Contra essa postura relativista, se erguem diversas vozes. Platão dizia ser absurdo duas opiniões a respeito do mesmo fato, seriam juízos contraditórios. 
Recentemente o papa emérito, Bento XVI (Joseph Ratzinger), proclamou a inconsistência do relativismo, inclusive em debates com filósofos, um deles, J. Habermas. Foi em Munique, em 2004, um ano antes de J. Ratzinger se tornar papa. A pergunta era sobre adoção de uma religião em um mundo plural: a verdade autoproclamada de certa religião de um lado, e uma cultura globalizada, na qual convivem várias crenças e religiões em sociedades democráticas, de outro lado.



A verdade, dizem os que se opõem ao relativismo, pode e deve ser comprovada e seguida por todos da mesma forma, pois há meios independentes de sustentar juízos, posições e valores. Por exemplo, por meio de provas, ou por meio de acordo a respeito da realidade, ou por meio de crenças em artigos de fé. Se a verdade se dilui com variações, justamente, fica impossível estabelecer a verdade. Verdade não pode variar, ou vale incondicionalmente, ou não é verdade. Se houver contradição (afirmar A e não A ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto),  se houver inconsistência (acho que é A, mas não tenho certeza, pode ser B...), fica impossível estabelecer o que vale e não vale, o que é correto ou incorreto. O relativismo é por isso, indefensável.

Em oposição, os relativistas sustentam que é possível ajuizar "isso é verdade", desde que sejam dadas as condições apropriadas. Para Habermas somos sujeitos falíveis, podemos mudar e aprender sempre, em todas as circunstâncias. Ao afirmar algo a respeito de um acontecimento, precisamos de informação, de um saber acerca do mundo, acerca de situações, é impossível transcender a realidade e a linguagem e alçar à totalidade. Um juízo a respeito de uma situação requer a compreensão de outros, a possibilidade de contestação, o conhecimento das condições apropriadas para garantir a validade, mas nunca a verdade. Há três fatores interligados: apresentar ou expor o acontecimento; comunicar por meio de atos de fala que visam acordo, entendimento ou desacordo e dissenso; a um público que repercute o que foi dito.
Trata-se de, digamos, um "relativismo responsável". Isso porque o "tudo vale" em qualquer circunstância, levaria ao descrédito ou ao conformismo. Se tudo vale, por que eu me importaria?!

Por isso, para Habermas, opor-se ao relativismo e sustentar que a verdade independe do sujeito e de seus posicionamentos implica que outras posturas, crenças, culturas e valores, estão do lado do erro, da inverdade, do desconhecimento - isso é perigoso, gera intolerância.

Ao contrário, a capacidade de esclarecer e de dar razões, de olhar e tentar compreender o outro, o diálogo entre povos e culturas, aponta em direção a esse tipo de relativismo responsável. Pergunte sempre: o que isso quer dizer nessas condições e circunstâncias? E não: só eu, só minhas crenças, só minha visão é a correta.
A verdade é possível e desejável apenas quando ninguém se proclama seu dono. E nisso não há contradição alguma.

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