sexta-feira, 29 de junho de 2012

A cultura de uma "moral" da egolatria

Nossa época vê surgir um novo tipo de personalidade que pode ser analisado de um ponto de vista moral. E de que ponto de vista moral? Sugerimos um contraste com uma moral que propõe uma vida virtuosa no sentido do cultivo de hábitos moderados, como a ética de Aristóteles.

O que um executivo, um profissional hoje em geral cultiva, aprecia e valoriza?
Ele precisa ser empreendedor, seu corpo é seu ego, o estilo de vida depende de mostrar-se, construir um eu e fazer sua vida girar em torno desse ego, bastante inflado. O corpo precisa de músculos, vestir-se requer marcas, conviver exige espaços de prazer imediato, como bares e restaurantes da moda, shoppings e todo e qualquer lugar onde ele possa exibir suas conquistas. Pode ser um automóvel ou um objeto da mais recente tecnologia.

O respeito, o cuidado com relação aos outros, a bela e boa vida interior são deixados de lado. Coisa de fracos ou inferiores.
O ególatra aprecia e tem como objetivos apenas o que pode ser medido, calculado, ranqueado. Escalar degraus na empresa, sucesso profissional, viajar para mostrar para onde foi, aliás, mostrar-se é imperativo. E como é fácil, mil fotos, filmes, eu fiz isso ou aquilo, o menor gesto ou atitude é sempre o de uma conquista de si que é exposta diariamente nas redes sociais. Sua vida gira em torno de si mesmo, a "moral" da egolatria. Valores são todos os que levam ao crescimento ou engrandecimento de si mesmo. Foi publicado recentemente um livro chamado, pasmem, "A anatomia da liderança ética" (sic), autoajuda para ter sucesso.

Para que modéstia ou moderação? Para que sinceridade ou autenticidade? Para que desprendimento ou altruísmo?
Essas e outras capacidades como a coragem moral, a justa indignação, a busca da calma e da paz interior, não servem ao ególatra.
Ao passo que contar vantagem, a gabolice, as bravatas, vencer a qualquer preço, isso lhe serve. Por vezes precisa ser subserviente, ele curva a espinha se precisar. O que pode levar ao despeito, ao vazio, sempre insatisfeito, talvez mesmo infeliz.

Entretanto, é possível ser bem-sucedido no trabalho, ser uma boa pessoa na vida familiar, cultivar amizades e atingir certa plenitude e satisfação, mesmo em meios competitivos.
É uma questão de estilo de vida, de escolha de valores, de reflexão e moderação. Buscar o que é justo. Uma vida plena não pode ser medida, ela não cabe em escalas ou rankings.

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