A "invenção", a novidade é a consciência, o eu interior que é trazido à superfície pela linguagem, pela narração do que Rousseau sentiu, experimentou, a força da emoção. Ao contrário dos estoicos, ele não consegue um domínio sobre si, e isso inclusive deve ser confessado, suas fraquezas, as desilusões, os impasses, a dificuldade em ser autêntico e sincero. Starobinski chamou a essa nova atitude, a esse novo discurso de "ética da autenticidade", o pacto com sua própria verdade, com o ser-se. A reflexão leva à justificação, e Rousseau deseja outro tipo de "verdade", a de si mesmo, espontânea, a ponto de evitar culpabilização. Mesmo quando se sabia em erro ou mentira, o que mais importava era revelar isso.
A linguagem considerada por ele como meio difícil e puramente convencional, acaba sendo a única fonte que para levar o eu a estabelecer uma relação consigo mesmo.
É possível, diz ele em Confissões enganar-se sobre episódios, fatos, datas, mas não sobre seus sentimentos.
Reconhe-se aí facilmente Proust, a psicanálise, a enorme quantidade de literatura boa e ruim da busca de si, do que move nossas emoções, enfim, a pergunta sobre o que afinal somos nós? Como e quais são as razões para a consciência revelar-se? Confessar, expor, desnudar-se sem ambiguidade, sem falsidade.
Mas sabemos que isso é impossível: a linguagem nos trai, os motivos confessos e inconfessos nos traem, a tarefa de dizer a si mesmo o que se é, de explorar suas emoções, não cessa. Arte, literatura, cinema, com resultados ora excepcionais ora medíocres, atestam essa característica do homem moderno.
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