quarta-feira, 10 de março de 2010

Sobre as coisas simples da vida

Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático (cerca de 540-470 a. C.), ficou famoso pela afirmação de que tudo muda, a cada vez que alguém se banha em um rio, as águas não são mais as mesmas, a pessoa já não é mais a mesma. O elemento primordial, aquele de que tudo é feito, a causa de tudo é o movimento, tal como o do fogo, incessante. Ele era famoso como pensador, admirado pela sua sabedoria. Era até mesmo arrogante, preferindo viver isolado. Morreu com hidropisia, como os médicos não conseguiam retirar a água de seu ventre, ele mesmo se fechou em um estábulo, cobriu-se com esterco imaginado que pudesse secar a água (!), mas acabou morrendo ...
Perguntado por que muitas vezes ele se calava, respondia "Para que vocês possam tagarelar". Dizia que a felicidade não residia nos prazeres do corpo, se residisse, "diríamos felizes os bois, quando encontram ervilha para comer". O equilíbrio de todas as coisas se acha na luta dos contrários, no ser e não ser de todas as coisas.
Conta-se que certa vez foi procurado por estrangeiros, que foram visitá-lo em busca de respostas para as questões mais nobres da filosofia. Encontraram-no junto ao fogão, se aquecendo, e se espantaram por ver um sábio em uma situação comum. Ao que ele respondeu: "Junto à lareira também habitam deuses".
Nas mais simples e cotidianas tarefas, "se manifesta algo de natural e de belo", completa Heráclito.
É possível encontrar harmonia, satisfação e plenitude nos atos mais banais. Muitas vezes a filosofia serve para isso, para ver o que está diante de nossos olhos e não buscar o inalcançável quando o sentido e a completude estão à nossa mão.

5 comentários:

  1. Olá Professora Inês,
    isso me leva a pensar um pouco em Rorty, dessa sensibilidade de notar o sofrimento que acontece muitas vezes ao nosso lado,no particular, e não nos damos conta porque estamos preocupados com coisas maiores, em situações universalizadas.
    Espero que não se incomode, mas reproduzo sempre seus textos em meu blog.
    A sra. ainda está lecionando na PUC?

    Um grande abraço!

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  2. Oi Izaquiel, lembra sim Rorty. Aliás, penso em escrever algo sobre a solidariedade, tal como ele a compreende.
    Pedi demissão da PUC em dezembro. Estou apenas trabalhando em casa, com textos e fazendo pesquisa.

    Pode usar meus textos em seu blog. Considero a internet e, em especial os blogs, como lugar de troca de conhecimento precioso!
    Abraço

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  3. Obrigado pela sua visita.
    Abraço
    Manuela

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  4. Tenho um conto (ainda não publicado) em que a personagem vê sua vida inteira modificada ao ficar sem empregada - ela e o marido. Os dois entregam-se à descoberta dos sabores, das texturas e dos próprios sentidos. É um texto em que meu narrador apresenta, de forma poética e literária, que em algum momento da vida entendemos que a simplicidade nos faz bem. Esta palavra,comumente, carrega todo um preconceito cultural/social estando ligada na maioria das vezes a pessoas que, de maneira insana (ou ainda imoralmente cômoda), pilotam seu próprio fogão e fazem a sua própria comida - enfim, conduzem a própria vida. Simplicidade é um tema que sempre preenche meus textos e a minha atenção. A propósito, visita meu blog: www.entrepalavrasecoisas.blogspot.com

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  5. Oi Sibéria desculpe a demora em responder; gostei de seus comentários, visitarei seu blog cujo título de inspiração foucaultiana é mto bom!
    Inês

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