domingo, 25 de maio de 2025

A perfeição e a imperfeição

 Perfeição pode ser entendida como pleno acabamento, sem brechas, sem fissuras, completo, não é preciso acrescentar e nem retirar nada. Imperfeição é associada com falha, defeito, imprecisão, mal acabamento.

O conceito de perfeição na filosofia antiga remete a um mundo ideal, o das ideias eternas, que são modelo para tudo o que existe neste nosso mundo, ele próprio, imperfeito. 

Para o cristianismo somos todos imperfeitos, em pecado original, que não se apaga, pecado herdado de Adão e Eva, somos "os degredados filhos de Eva", marcados, em falta. A alma submetida ao corpo sofre com os percalços deste.

Na arte a perfeição encontra um território privilegiado, com vários exemplos desde a estatutária grega, passando pelo modelo do corpo com as medidas exatas de Michelângelo, sua estátua de David, enorme, impressionante vitorioso na luta contra o gigante Golias. O Moisés e a Pietà ilustram a perfeição retirada da pedra. Mais adiante, entre outros, Vermeer, o holandês da pintura exata, quase fotográfica muito antes da invenção da fotografia, seria outro exemplar de perfeição estética.



A rendeira - Vermeer (1632-1675)

A perfeição é obra humana, construções que seguem parâmetros matemáticos, como nos templos, as abóbodas das catedrais, engenharia perfeita, sustentação quase que milagrosa. A expressão "perfeito" é usada para expressar essa exatidão.

Entretanto, ainda na arte, que dizer dos impressionistas? Cabe o adjetivo "perfeito"? Essa que é uma das escolas mais admiradas, mais fruídas, não retrata e sim impressiona, daí o adjetivo "impressionismo". A sensação estética não vem de perfeição alguma, a "imperfeição" de um nenúfar, traços, pinceladas, cor, e pronto, lá está todo um jardim, uma paisagem, um rosto, uma cena. Seria o "perfeito imperfeito"?!

Desde os impressionistas a noção de perfeição não se aplica à arte, a incompletude se apresenta para que os olhos vejam o que na tela não está "pronto" nem nunca vai ficar.

Onde buscar então a perfeição? No ideal moral, na moral religiosa? Tanto a religião judaica, como a cristã e a mais recente, que data de apenas 600 anos, o islamismo, proclamam que a humanidade está em falta, em pecado, precisando de socorro, de redenção.

Restaria ouvir as esferas celestes, penetrar na harmonia do todo, no equilíbrio universal, no eterno movimento, ali, talvez apenas ali, longe das atribulações humanas se encontraria a perfeição.

Cá na terra, ver e entender com o coração e não com a razão pode ser um caminho para a almejada perfeição, aquela da paz interior. 


segunda-feira, 19 de maio de 2025

Nós, cidadãos de segunda classe

O direito à cidadania é universal nas democracias ocidentais, desde a Declaração dos Direitos (Bill of Rights) da Constituição norte-americana, que data de 1791, protege os direitos individuais, limita o poder do governo federal, garante liberdade de expressão, religião, imprensa, assembleias e o direito de fazer demandas, petições. Em 1789, a Revolução Francesa assegurou o direito à propriedade, segurança e resistência à opressão, fundamentando um estado liberal e constitucional.

 Nossa constituição, chamada de "cidadã", prevê o direito universal à cidadania, a igualdade perante a lei, a legitimidade da representação, direito à saúde e educação.

Enfim, a base das democracias liberais é a igualdade do direito à cidadania. Somos todos os brasileiros, igualmente cidadãos, sem que haja nenhuma necessidade de taxar como uns sendo mais e melhores do que outros. Trata-se de um princípio a ser seguido, principalmente pelos governantes. 

Em nosso desprestigiado e sofrido país, acaba-se por descobrir que o princípio acima não vale. Senão vejamos:

A cada dia, a cada nova viagem, alguém, em geral o próprio Presidente precisa socorrer a esposa devido a declarações dela que são inapropriadas, deslizam para o puro e simples anedótico, defendem o indefensável, quebram protocolos diante de chefes de Estado. 



Quebra de protocolo, a falta de noção da "primeira-dama"

A Advocacia Geral da União (AGU) é chamada em sua defesa, o que é inconstitucional, Janja deveria contratar um advogado particular para defendê-la. Ela não tem cargo algum, mas age como prima dona, poderosa, irresponsável, correndo risco para si e para a imagem do Brasil diante, por exemplo, de Xi Jinping, ditador chinês, que deveria, segundo o entendimento da primeira dama, censurar o Tik Tok. Ora, essa plataforma é chinesa, o que implicaria que o governo deveria censurar para atender reclamos de Janja! O poder subiu à cabeça e fez parceria com a total falta de compostura. É mais do que sabido que tudo na China passa por censura, aquela absoluta e que interessa apenas encobrir o que acontece lá. Liberdade de expressão em ditaduras?! Xi Jinping deve ter ficado pasmo, ou talvez rindo, algo nada difícil para um chefe de Estado cujo poder é incontestável.

O desejo de censurar, o projeto de censurar as redes sociais não esmoreceu no governo Lula. Afinal, somos cidadãos de segunda categoria, sim, pois a primeira categoria cabe à primeira dama, justamente, "primeira". "Ela não é uma cidadã de segunda classe, entende mais de direito digital do que eu, e resolveu falar" declarou Lula a respeito do episódio em que ela pleiteava censura ao Tik Tok. Segundo Lula, Janja pode fazer o que quiser, como ele já declarou.

Assim, no juízo arrevesado, destituído de qualquer respeito aos cidadãos brasileiros, declara que, então, todos nós somos de segunda classe, ou talvez de 5a categoria, exatamente como foram tratados os aposentados do INSS. Assaltar a folha de pagamento sem deixar rastros, confiar que não seriam descobertos e se descobertos não seriam punidos, extorquir virou rotina.