Perfeição pode ser entendida como pleno acabamento, sem brechas, sem fissuras, completo, não é preciso acrescentar e nem retirar nada. Imperfeição é associada com falha, defeito, imprecisão, mal acabamento.
O conceito de perfeição na filosofia antiga remete a um mundo ideal, o das ideias eternas, que são modelo para tudo o que existe neste nosso mundo, ele próprio, imperfeito.
Para o cristianismo somos todos imperfeitos, em pecado original, que não se apaga, pecado herdado de Adão e Eva, somos "os degredados filhos de Eva", marcados, em falta. A alma submetida ao corpo sofre com os percalços deste.
Na arte a perfeição encontra um território privilegiado, com vários exemplos desde a estatutária grega, passando pelo modelo do corpo com as medidas exatas de Michelângelo, sua estátua de David, enorme, impressionante vitorioso na luta contra o gigante Golias. O Moisés e a Pietà ilustram a perfeição retirada da pedra. Mais adiante, entre outros, Vermeer, o holandês da pintura exata, quase fotográfica muito antes da invenção da fotografia, seria outro exemplar de perfeição estética.
A rendeira - Vermeer (1632-1675)
A perfeição é obra humana, construções que seguem parâmetros matemáticos, como nos templos, as abóbodas das catedrais, engenharia perfeita, sustentação quase que milagrosa. A expressão "perfeito" é usada para expressar essa exatidão.
Entretanto, ainda na arte, que dizer dos impressionistas? Cabe o adjetivo "perfeito"? Essa que é uma das escolas mais admiradas, mais fruídas, não retrata e sim impressiona, daí o adjetivo "impressionismo". A sensação estética não vem de perfeição alguma, a "imperfeição" de um nenúfar, traços, pinceladas, cor, e pronto, lá está todo um jardim, uma paisagem, um rosto, uma cena. Seria o "perfeito imperfeito"?!
Desde os impressionistas a noção de perfeição não se aplica à arte, a incompletude se apresenta para que os olhos vejam o que na tela não está "pronto" nem nunca vai ficar.
Onde buscar então a perfeição? No ideal moral, na moral religiosa? Tanto a religião judaica, como a cristã e a mais recente, que data de apenas 600 anos, o islamismo, proclamam que a humanidade está em falta, em pecado, precisando de socorro, de redenção.
Restaria ouvir as esferas celestes, penetrar na harmonia do todo, no equilíbrio universal, no eterno movimento, ali, talvez apenas ali, longe das atribulações humanas se encontraria a perfeição.
Cá na terra, ver e entender com o coração e não com a razão pode ser um caminho para a almejada perfeição, aquela da paz interior.