segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Descartes, o sentido de "Penso, logo existo"

 O centro do pensamento de Descartes (1596-1650) é o "eu", isso nada tem a ver com egoísmo, com egocentrismo. Eu e consciência formam uma unidade, o espírito se contrapõe ao corpo, identificado como uma máquina. Essa conclusão se deveu a um método seguido rigorosamente em sua busca pessoal pela verdade, recolhido em si mesmo, Descartes se propôs a ver claro, a buscar evidências. Para chegar à verdade precisou renunciar ao mundo, a ir por partes, desmontar para depois montar, chegar à rocha sólida em lugar da areia movediça.

Esse racionalismo no sentido mais radical do termo, a distinção entre alma e corpo, segundo o próprio filósofo foi por ele elaborada ao meditar, ao refletir, saiu como que de sua própria cabeça. Viajou, explorou outros povos, nada encontrou que fosse firme, indubitável. Metodicamente foi de dúvida em dúvida até a impossibilidade de duvidar que estivesse duvidando. 

Não seria tudo falso? Para entender que tudo fosse falso seria necessário que ele próprio, Descartes, fosse algo, mas que algo seria esse?

O eu pensante. Poderia duvidar de tudo, inclusive de si próprio, das coisas, do mundo, mas não poderia duvidar que estivesse a duvidar e, portanto, a pensar. A partir dessa constatação, a rocha foi encontrada. Ele foi além: o pensar, pensar na perfeição, essa ideia mesma da perfeição, não viria dele, um ser imperfeito e sim de um ser perfeito. E mais, impossível que a ideia desse ser perfeito não implicasse sua existência. A ideia de um triângulo ou a de uma esfera, mesmo se no mundo não houvesse essas duas figuras, se elas podem ser concebidas de modo claro, distinto e acessível, isso implica em sua realidade ontológica. Descartes conclui da ideia, do conceito, para a existência e possibilidade de certeza para todo conhecimento. 

A cadeia de razões que Descartes iniciou com o estar sentado, sozinho, ao conceber dúvidas, ideias, conceitos e figuras geométricas, e daí deduzir que pensa nisso tudo, evidente que a "substância" que nele pensa é o cogito e não o corpo. 

Penso, logo existo, significa que apenas o racional é a base de tudo, apenas o calculável, o encadeamento de razões, o "se ... então" leva à verdade, e a verdade é baseada em raciocínio matemático, lógico, cuja meta é a certeza. Por sua vez, o fundamento da certeza é a simples possibilidade de pensar o seguinte: "não seria possível que Deus, que é todo perfeito e verídico, as houvesse posto em nós" (Discurso do Métodosem que essas ideias fossem de algo, e de algo que existisse, que fosse verdadeiro. Em última análise, Deus assegura a certeza, a verdade para todo aquele que pensa. Pensar é fundamento de tudo, "impossível que a ideia de Deus que em nós existe não tenha o próprio Deus como causa" (Meditações).


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O pensar tão diferente do corpo! E se o corpo "pensasse" e não a alma imortal? E se a máquina pensasse e não a razão humana? Os empiristas demonstraram que a realidade fora de nós é matéria para o conhecimento. Os materialistas afirmam que o cérebro é a fonte de conhecimento. 

Descartes, se ele aportasse em pleno século 21, compreenderia que máquinas possam pensar, concluir, criar objetivos, influenciar o comportamento, levar a decisões? Isso tudo sem a interferência de Deus?! Ele diria que estávamos sonhando sob a influência de um deus enganador. Seria a IA esse deus enganador?

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