Outros condenam o uso da louvação a Deus com o argumento da ingerência do poder público na fé privada, pois na constituição nosso Estado é laico e as crenças são de foro íntimo. Nisso o procurador de certa forma segue uma tendência. Começou com a proibição do véu para a muçulmanas na França, e vem até a retirada de crucifixos de gabinetes de juízes no Brasil.
A questão de fundo, nesses casos é uma questão cultural. Há símbolos valorizados, cujo significado está presente não só nos espaços públicos, mas também nas manifestações pessoais. Uma procissão é manifestação de fé pública ou de foro íntimo e privado? Adesivos nos carros (terços, mensagens, figuras), cartazes com frases da Bíblia, significam que a pessoa declara aos outros sua fé? Ou quer com isso adesão à sua fé? Como se vê, a pretensa separação entre público e laico de um lado, e privado de outro, em matéria de crença religiosa é relativa. A quê? À cultura, aos costumes, à aceitação social ou à rejeição social; outras vezes se deve à moral dos grupos sociais. A própria moeda já foi chamada de "cruzeiro", as pessoas esquecem que é um termo derivado de cruz, símbolo máximo da cristandade.
Há um outro fator, esse sim, importante: a liberdade de crença, de opinião, de manifestação em democracias ocidentais é imprescindível. A convivência com o outro, com o diverso, com adversários políticos e mesmo de times esportivos antagônicos, é própria de sociedades modernas. Por tudo isso não se deve impor o uso de símbolos que constrangem a liberdade de expressão, que menosprezem ou ridicularizem outras religiões, crenças ou modos de ver e de viver.
Há quem argumente contra a proposta do procurador por razões filosóficas e teológicas. A necessidade da crença em Deus é incontestável e necessária, sem Deus nada somos, não pode nem passar pela cabeça de ninguém negar Deus. Rejeição do ateísmo como sendo absurdo, perigoso.
E o oposto, não há tal ser superior, o ateísmo deve ser cultuado, Deus não passa de uma invenção.
Ambos radicalizam, o primeiro pelo dogmatismo, o segundo além de radicalizar, acaba em uma redução ao absurdo: o ateísmo passa a ser um tipo de crença, o que é contraditório.
A vida em sociedade institui normas, significados, símbolos. Se eles forem vazios acabam esquecidos ou perdem sentido. Se forem impostos, como foi o caso da frase na moeda do real (por Sarney, em uma atitude hipócrita e nada original), causam desconforto em um primeiro momento, depois são também ignorados.
De qualquer forma, algo não soa bem, pois a crença em Deus pressupõe coração aberto, desprendimento, confiança. O dinheiro simboliza o oposto: luxúria, ganância, e falta. Falta no sentido financeiro para a grande maioria e falta no sentido psicanalítico. Talvez para todos...
Detalhe: O Estado Laico pressupõem a liberdade de crença assim como a liberdade de descrença, a qual a Sra. Ignorou.
ResponderExcluirClaro que há liberdade de em nada crer, mencionei o ateísmo. Ateus convictos diferem de ateus que pregam o ateísmo como se fosse uma crença. E isso é no mínimo contraditório.
ExcluirFaço uma retificação/esclarecimento: quando me refiro a todas as religiões, trata-se dos principais credos no Brasil. Há outras crenças, politeísmo, animismo, fetichismo. Mas acho que a polêmica não gira em torno desse tipo de adoração.
ResponderExcluirVou propor só uma coisa: Se a frase "Deus seja louvado!" não pode estampar as notas de Reais, por este ser um país laico, então, eu como cristão aceito, com uma única condição: Dia 12 de outubro deixará de ser feriado, pois um país laico não deveria parar sua economia em prol de uma imagem católica. É o mínimo. Se o motivo alegado pelo tal procurador for pelo menos honesto com suas convicções, por favor, Sr. Procurador, abaixo ao dia da aclamada pelos católicos como padroeira do Brasil, pois o Brasil é um país laico. Os que creem nela, podem até continuar adorando-a, no entanto, eu exijo, como cidadão, que esse dia deixe de ser feriado.
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