Na última postagem perguntei quem nos salvará, quem nos resgatará. Vou refazer a pergunta: com quais metas e objetivos, por meio de quais valores?
Independência e coragem, capacidade de análise, enfrentamento de questões mesmo as mais espinhosas e controvertidas, pôr as cartas na mesa, olhar o jogo de A e de B, seus pontos altos, justificáveis, e seus pontos mesquinhos e injustificáveis.
O caminho se apresentará cheio de idas e vindas, com meandros e armadilhas, é preciso reconhecer o lobo disfarçado em cordeiro, as acusações mútuas, as fontes, ah! as fontes, como elas se enrodilham sobre si mesmas, umas catastróficas, outras com benevolência hipócrita. Mas, em meio a esses turbilhões pode surgir a maré da calma, da postura, da razão, livre de artimanhas.
O valor que precisa ser levado em conta não está na direita e nem na esquerda, não depende de chefes de Estado e muito menos de chefetes. O valor a ser resgatado pode ser buscado na própria história, se somos nós que construímos e somos responsáveis pela nossa conduta, é por meio dela, da conduta de milhões de pessoas, de milhares de iniciativas e ações, de exemplos, de compromisso com a liberdade que vem expressa e garantida por meio do engajamento, não a liberdade vazia que vem expressa em leis e constituições. E isso porque há nações que exibem liberdade nas bandeiras, mas oprimem na realidade.
Um exemplo de coragem, busca de liberdade, de simplesmente ser reconhecido como pessoa em sua integridade física, mental e de direito, foi o amplo movimento dos negros nos EUA desde o século 18 até recentemente, décadas de 80 e 90 do século passado. Submetidos ao mais cruel apartheid, em zonas das cidades, em transporte público, nos banheiros, nos cinemas. Sim, apenas nesse exemplo, o dos cinemas no sul, na Luisiana, Flórida, Mississipi, havia duas cabines para a compra de ingresso na nascente indústria cinematográfica que encantava e atraia, depois, era preciso subir um, dois, três, quatro andares, com forte cheiro de urina, para finalmente se instalarem no último andar e degustar o espetáculo.
Esse caso é narrado por Isabel Wilkerson em The Warmth of Other Suns (O Calor de outros Sóis), a história da migração dos negros do sul opressor para o norte libertador.
Segregados em sua educação, perseguidos, torturados e mortos, há incríveis biografias dos que se realizaram e puderam, com liberdade, viver, criar suas famílias e ir em busca da realização pessoal. Liberdade para desenvolver suas potencialidades, coragem para enfrentar o medo, o castigo físico, a humilhação.
Isso sim pode nos resgatar, ir em busca de realização, com coragem e independência, especialmente no momento histórico atual em que títeres mandam e desmandam, em que chefes de Estado se perdem em vociferações, não se sabe mais em quem confiar.
Há que confiar não neles e sim na capacidade humana de lutar, repito, com coragem e independência.