Imanência e transcendência se opõem enquanto conceitos filosóficos.
O que é imanente? A primeira imagem que ocorre é o de estar à mão, disponível, acessível imediatamente. Um exemplo clássico de filosofia da imanência é a de Schopenhauer (1788-1860). O que se conhece é o mundo efetivo, que é mutável, inesgotável, multifacetado. Esse modo de conceber se opõe às metafísicas do infinito, da busca do que está para além dos sentidos, do que é absolutamente em si mesmo e como que paira acima de tudo, causa de tudo.
Por isso mesmo as filosofias da imanência rejeitam o historicismo, a concepção de que tudo muda, de que a história e tudo está em vir a ser permanente, de que a roda não para de girar, de que esse movimento é sem fim, como é o caso de Hegel.
Ao contrário, o filósofo imanente não se interessa por questões da origem primeira de todas as coisas, de onde e para onde todo ser veio, e a que se destina, de que o ser é condicionado a um fim. Os filósofos da imanência discordam de que tudo na natureza e no mundo tem uma explicação, que só se pode compreender por meio do conhecimento das causas.
Somos assim, e tudo está assim, como que assentado em seu próprio invólucro, e este se basta, se abre e realiza suas potencialidades, seu ser desse modo e é por meio desse mesmo modo que ele se apresenta. Encontra-se plenitude e satisfação na contemplação e na intuição, na fruição do objeto, na vontade inteiramente imersa nas coisas, no aqui e no agora. É-se enlevado e absorvido, a ponto de o querer, a vontade se deterem no presente.
Um exemplo: a instantaneidade pode ser captada imediatamente pelo celular, multiplicação de selfies. E isso serve provar que se está ali naquela situação. O problema é que este afã pela autoimagem impede de olhar em volta, perde-se essa imersão no que encanta de uma paisagem. Imanência seria, neste caso, absorção pela luz, pela movimento das águas, pelos ruídos da natureza, o farfalhar das árvores; estar ali em vez de focar em si. O fotógrafo e o artista não indagam a causa, eles captam e contemplam.
Foto FBL por do sol Agudos do Sul
Quanto à transcendência (não confundir com transcendental, que é sempre racional, formal, necessário e a priori), o mundo que se conhece e no qual se vive, não é a verdadeira, suprema e efetiva realidade. O mundo imanente engana, o mundo transcendente vai além do sensível, o que se conhece verdadeiramente é o que não se vê e nem se toca, apenas é intuído por meio de conceitos, de ideias, e são estes que tornam a realidade percebida ser o que ela é mesmo, sua causa e sua finalidade. Nem a causa e nem a finalidade estão presentes no aqui e no agora, mas são elas a verdadeira realidade por detrás desse mundo que nos cerca.
Como o mundo sensível é mutável, e o que é mutável é incognoscível, quer dizer, ora é ora não é, para conhecê-lo deve haver um meio, algo através do que o mutável se estabiliza, a causa. Por exemplo, as quatro causas de Aristóteles: causa formal (sem ela algo não é identificável), causa material (sem ela nada possuiria substrato), causa final (tudo tem um fim, um uso determinado), causa eficiente (a ação que determina um ser como tal).
E como tudo veio a ser? Por meio de uma causa poderosa, autossuficiente, que a tudo gera, o criador de tudo. O que transcende a tudo? Deus.
Deus imanente seria impossível.
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