terça-feira, 29 de março de 2016

A finalidade da Filosofia

Situar a pessoa em seu tempo e lugar, habilitar para o pensar que generaliza, amplia, abre horizontes, mais e melhor do que outro tipo de conhecimento, a Filosofia é capaz. Se você já se pegou dizendo, "Como não pensei nisso antes?!", sugere revelação, um novo modo de encarar algo banal ou espetacular, um ângulo diferente, uma perspectiva renovadora que pode transformar o modo de viver e de agir.
Como isso se dá?
Em grande medida pelo estudo dos filósofos, suas ideias, seus conceitos, seus métodos, suas posições diante dos enigmas e questões que eles propõem, e das respostas que oferecem à nossa reflexão.
Será possível, além disso, aprender Filosofia de forma sistemática, quer dizer, como se aprende outras disciplinas como Geografia, Física, Matemática?
Há filósofos dogmáticos, estes consideram que a missão filosófica seja doutrinar, não a busca de um método ou caminho e sim trilhar apenas um único caminho. 
Outros como Sócrates, Platão e Aristóteles diriam que isso é impraticável, que o diálogo entre mestre e discípulos, que a transmissão do saber e o ensino mesmo da Filosofia se dá em uma relação do que ignora com aquele que sabe, e do que sabe considerando-se também como aprendiz. 

O problema é que compreender o pensamento de grande parte dos filósofos é difícil. Quantas vezes já ouvi que "Filosofia é muito difícil, muito abstrata!"
Sim, é, daí a importância da dedicação dos professores ao seu estudo, que requer paciência, tempo, afinidade com o modo de os filósofos escreverem e apresentarem suas propostas, seu modo de ver, de conceituar, de expor suas ideias. O professor precisa se fazer entender, atingir seus alunos despertando-lhes a curiosidade, levando-os a insights, levantando questões de suas vidas e de suas vivências imediatas. A partir daí vai para o mais abstrato, pois é preciso abstrair, formular conceitos, deixar-lhes despertos para os ensinamentos dos filósofos.
O professor de Filosofia não é mais o instrutor, o ideólogo, o propagador de uma doutrina, de um sistema filosófico como se este fosse o verdadeiro e todos os outros falsos.
Os próprios conceitos como os de verdade, de doutrina, de ideologia, de verdadeiro/falso devem ser apresentados por meio do que importantes filósofos propuseram.

Mas, quais filósofos escolher? Como se mede a importância deles?
Evidente que os livros de História da Filosofia são um meio adequado. O que não significa abordar toda a História da Filosofia, isso seria improdutivo, seria como  assistir ao desfile dos filósofos sem apreciar devidamente seu pensamento.
Assim, o professor deve ser criterioso, não atender simplesmente ao seu gosto pessoal e sim à importância de cada pensador. Que o mestre evite apresentar apenas o filósofo abordado em sua tese e deixe os demais de lado...
A leitura dos textos originais juntamente com os comentadores é um passo importante. Há que descomplicar a complexidade dos conceitos e ideias, sem banalizar. 
Um exemplo, apresentar o conceito de "verdade" por meio da filosofia grega clássica e contrastar com um filósofo moderno e outro contemporâneo. Verdade como saída da ignorância (Platão, o mito da caverna); verdade como certeza, evidência, clareza (Descartes); verdade nos diferentes jogos de linguagem usados no cotidiano (Wittgenstein).

Preparo, estudo, honestidade intelectual, com esses meios o professor atinge a finalidade da Filosofia: explorar os caminhos do pensamento e semear ideias e conceitos.

sábado, 19 de março de 2016

Habermas e o lulopetismo

Em sua teoria da ação comunicativa, Habermas destaca duas possibilidades: a de argumentar oferecendo razões e respaldo na realidade, na sociedade e nas relações interpessoais (razão comunicativa); segunda possibilidade é a da razão estratégica, que visa convencer, obter determinado fim, seja no campo econômico, seja no campo político.
Pois bem, o lulopetismo jamais visou atender às expectativas sociais e normativas, e sim diretamente o poder, não o do povo brasileiro e sim o de seu partido, o PT. Tudo bem, visar o poder político, via eleições em um Brasil que finalmente chegara ao estado democrático de direito. 
O problema, grave, foi ter visado fins políticos por meios ilícitos, de pura e simples corrupção, dilapidação de empresas públicas, em conluio com parlamentares (mensalão) e, o que só há dois anos veio à luz com a operação Lavajato. Esta revelou que o conluio era maior, uma teia envolvendo empresários, parlamentares, diretores da Petrobras e quem sabe de quantas mais? Belo Monte? Furnas? Angra?
O toma lá, dá cá tinha um inspirador, Lula, justamente aquele de quem se esperaria atitudes de probidade, de veracidade, de normatividade que deveriam permear o exercício honesto e limpo do poder.
O projeto de poder do lulopetismo era outro, a permanência no poder, o cala boca das camadas mais pobres e ignorantes, fáceis de manobrar com alguma esmola, sindicatos cujas lideranças dependem de subserviência de seus membros, e, justificando tudo isso, uma classe de intelectuais formada nas universidades.
Vejamos esta última, a classe de intelectuais de esquerda, leitores (será que leram mesmo?) de Marx e Gramsci, predominam em universidades, especialmente as públicas. Seus papers, seus alunos e seus orientandos, seguem o unipensar, o pensamento em bloco, rígido, que propagou um ideário da divisão da sociedade em classes, que culpabilizou o FMI, os bancos, a livre iniciativa, a propriedade privada que demonizou o capitalismo.
Mas observem o seguinte: os movimentos sociais almejam ser proprietários, nem que seja expulsando proprietários legítimos (MST). O projeto de casas populares, o que são elas se não propriedade privada? 
Os servos dessa cegueira ideológica se reúnem e gritam palavras de ordem, desprezam os argumentos, as razões, as investigações. Pobres intelectuais, zero de pensamento crítico e independente, e pior, isso se esparrama nos livros didáticos, no discurso dos sindicatos de classe, até os movimentos sociais justos se veem arrastados nessa maré. 
Além da cegueira ideológica, que os impede de ver a realidade social, política e econômica (estrago nas contas públicas, endividamento, inflação, desemprego, perda da solidez monetária arduamente conquistada), há a surdez para as evidências que desmontaram o esquema de corrupção no qual teríamos permanecido se não fossem investigadas tanto a corrupção como os corruptores.
***
Um público educado requer informação honesta, fontes fidedignas, diálogo baseado em argumentos, calcado na verdade objetiva, na lealdade entre cidadãos, nas normas sociais. Razão comunicativa, portanto. 
A razão estratégica funciona para vender e comprar, para convencer e obter apoio político, ela é necessária às sociedades modernas como um todo, mas estas resvalariam para ditaduras e regimes de força se a razão comunicativa for prejudicada ou até mesmo alijada.

É que, quando se trata de diálogo, de democracia e de justiça, não pode haver travas. É preciso abertura, coragem, dar satisfação de seus atos, ser honesto, visar o bem comum.

Chegar a acordos, a consenso, é próprio das democracias avançadas, que usam a razão comunicativa, os argumentos para obter: entendimento que forma o saber cultural, a educação; o cumprimento de normas sociais que integram todos os membros de uma sociedade (não somos bandos e sim cidadãos em uma democracia, em que vige o estado de direito, com leis e regras); finalmente, em questão estão as pessoas, cada qual com sua personalidade desenvolvida e constituída pelo caráter, pelo respeito e pela dignidade.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Orquídeas no meu quintal

Seria ótimo se não houvesse necessidade de um "dia internacional da mulher", mas infelizmente ainda há.
Sabe-se e pouco se faz contra a violência à mulher (física, moral, mental) em várias culturas. Proibição de dirigir, de trabalhar, de ir à escola, de conservar íntegra sua sexualidade. Isso causa sofrimento e rebaixamento da condição feminina.
Em países ocidentais, nosso inclusive, há ainda um autoritarismo ora explícito, ora velado: mulheres ganham menos, cabe  elas "se virarem" com os filhos, se ganham mais que o marido, são humilhadas de outras formas.
Não há, da parte dos homens nada parecido com "a condição masculina". Civilizações há milênios atribuíram ao masculino, ao másculo, ao pater familiae o comando da casa, dos bens, a eles sempre foi dado o papel condutor, nos negócios e na guerra.
Os papéis femininos se restringiam à casa e aos filhos. Mudanças foram muito recentes, e elas precisam ser lembradas e postas em prática por nós mulheres o tempo todo, sem descanso.
O trabalho da mulher, dentro de casa precisa ser compartilhado e fora de casa precisa ser valorizado. 
Pois bem, tudo isso é mais do que sabido. 
Por que, então, ainda há discriminação?
Veja-se o caso da Filosofia. A quase absoluta ausência de mulheres na história da filosofia indica que o fator educacional pesa consideravelmente. As meninas frequentam a escola há muito pouco tempo. A geração que nasceu no início do século 20, no máximo estudava o antigo primário. Poucas desbravavam as universidades, e isso era visto como ponto pacífico.
A modernidade trouxe comodidades que aliviam o peso do trabalho doméstico, os filhos podem ser cuidados desde cedo por instituições, e isso, aos poucos foi alçando a mulher à condição de produtora.
Assim, educação, informação, trabalho, muito trabalho, permitem que o papel e a voz feminina tenham seu lugar, e nesse lugar não se exigem privilégios e sim reconhecimento.

Tomo as orquídeas que florescem em meu quintal no mês de março como homenagem à condição feminina, que muda e conquista terreno, e ao mesmo tempo se sente bem e confortável em seu corpo e beleza.

sábado, 5 de março de 2016

"Alétheia" e Lula

Muito feliz, muito apropriada a designação da 24a. fase da operação Lava Jato. "... traduzirmos a palavra alétheia por 'desvelamento' no lugar de 'verdade'", é segundo Heidegger mais adequado, representa a noção de que o ser desvelado permite que o ente (tudo o que "existe", por assim dizer) se manifeste, se abra e revele nosso comportamento, nossa existência, nossa liberdade. É um deixar que aquilo que é, seja o que é.

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E na manhã do dia 04 de março de 2016, finalmente o cerco chegou ao chefe, um ex-presidente. Tão logo se soube que Lula deveria depor, a militância lulista/petista foi convocada. E se apresentou para defender o indefensável, para encobrir com palavras de ordem e uma indignação que revela o grau de dependência ideológica ao discurso de que o salvador da pátria está acima de julgamento.
Vociferar diante de uma plateia arrebatada por um líder que os enganou, é fácil, e também perigoso. Lula diante do ter que revelar-se, escondeu-se para iludir, enganar, aproveitar-se de grupos e movimentos sectários que apenas esperam palavras de ordem e rejeitam todo e qualquer tipo de julgamento baseado em razões, em evidências, no desvelamento do que ele e as super empresas fizeram, de como uma empresa sólida foi dilapidada em benefício de poder, de barganha, de sujeição das instituições democráticas ao desejo imperioso de Lula de permanência no comando de todo um país, de toda uma nação!
Aos poucos o castelo foi ruindo. Uma pessoa medíocre foi imposta por Lula em uma eleição eivada de mentira e propaganda terrorista, obra do mago João Santana, a presidenta Dilma, que foi leniente com a roubalheira. Deve cair juntamente com seu chefe. 

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Assim, verdade, no sentido de alétheia, leva a desvelar, enfrentar, deixar que a liberdade de ser ressurja e tome efeito:
"Porque a verdade é a liberdade em sua essência, o homem historial pode também, deixando que o ente seja, não deixá-lo ser naquilo que ele é, e assim como ele é", diz Hiedegger em Sobre a essência da verdade
Traduzindo, os homens, ao longo da história, podem tornar o ente, a manifestação do ser de todas as coisas, em algo fútil, meramente utilizável, que se esconde, inautêntico, nivelado, simplista, dissimulado.
Em um país no qual há instituições sólidas, democracia, estado de direito, uma república com cidadãos de bem, que pagam seus impostos, mesmo deles pouco usufruindo -, as mentiras, as barganhas, a propina, a compra de parlamentares, a compra do silêncio, a desqualificação sumária de pessoas que denunciam a corrupção, tudo isso precisa ser evidenciado, trazido à luz, revelado. 

Alétheia, gritemos todos nós!